O orçamento secreto já comprou Lula?
Na campanha, Lula prometeu acabar com o orçamento secreto. Chamou de "excrescência" o uso discricionário pelo Congresso de bilhões de reais -- em três anos, teriam sido mais de R$ 64 bilhões -- sem qualquer transparência ou prestação de contas. Hoje, José Guimarães disse que o PT anunciará apoio à reeleição de Arthur Lira; o que, na prática, significa endossar a excrescência, marca da gestão do presidente da Câmara...
Na campanha, Lula prometeu acabar com o orçamento secreto. Chamou de “excrescência” o uso discricionário pelo Congresso de bilhões de reais — em três anos, teriam sido mais de R$ 64 bilhões — sem qualquer transparência ou prestação de contas. Hoje, José Guimarães disse que o PT anunciará apoio à reeleição de Arthur Lira; o que, na prática, significa endossar a excrescência, marca da gestão do presidente da Câmara.
Claro que o apoio deve viabilizar a aprovação da PEC da Gastança, mas há uma série de perguntas que precisam ser feitas. Por que diabos se está discutindo eleição para o comando do Legislativo dois meses antes do prazo? Por que diabos se está discutindo uma PEC, entregando de mão beijada o destino do futuro governo a um Congresso em final de legislatura? Por que diabos Lula ainda não indicou seus ministros, nem mesmo o da Fazenda?
Ninguém do governo ou da oposição me parece ter a resposta. Jaques Wagner alertou sobre a urgência de se nomear logo o ministro da Fazenda e foi desautorizado publicamente por Gleisi Hoffmann. Fernando Haddad foi afagar banqueiros, depois que o mercado reagiu mal a declarações de Lula sobre responsabilidade fiscal.
Está tudo muito estranho. O presidente eleito deixou a coordenação da transição nas mãos de Geraldo Alckmin para viajar com Janja mundo afora. Hoje desembarcou em Brasília, pela segunda vez em quase um mês. A história é testemunha de que Lula nunca gostou muito de trabalhar, mas não dá para terceirizar decisões estratégicas sobre a formação do futuro governo, sob o risco de se comprometer o próprio futuro desse governo.
Talvez o petista esteja cansado ou tenha perdido o traquejo para a política.
Explico. Mais cedo, ele telefonou para Baleia Rossi (MDB) para pedir uma conversa com o MDB, partido que não integrou a ‘frente ampla’ lulista e que não pretende aderir à base do governo, apesar das preferências pessoais de Renan Calheiros, Jader Barbalho, Eunício Oliveira e até da neolulista Simone Tebet.
Enquanto Lula divide seu tempo entre viagens e exames no Sírio Libanês, Alckmin mantém conversas paralelas em padarias de Brasília. Numa delas, como revelou a repórter Júlia Schiaffarino, o interlocutor do ex-tucano foi identificado como o também ex-tucano Danilo Forte (União Brasil), hoje aliado de Lira.
Quem acompanha a política de Brasília há mais de duas décadas tende a desconfiar de encontros fortuitos numa cidade sem esquinas. Assim como não existem coincidências na política, tampouco acredito em ex-tucanos. Até poucas semanas atrás, esse mesmo interlocutor de Alckmin integrava conversas do União Brasil com PSDB, Podemos e MDB sobre o futuro da oposição, leia-se reeleição de Arthur Lira e manutenção do orçamento secreto. Sem esquecer o PSD de Kassab, braço-direito de Tarcísio de Freitas, algoz de Fernando Haddad, e padrinho político de Domingos Neto, o primeiro relator do… orçamento secreto.
É a força dos esquemas sub-republicanos.
Desse jeito, não haverá o prometido terceiro mandato de Lula, mas um governo tutelado pelo Centrão, repetindo, com apoio dos petistas, a fórmula que dobrou os joelhos de Jair Bolsonaro e cuja semente foi plantada no impeachment de Dilma. Partidos e políticos se repetem, agora como farsa.
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