Militância virtual de Boulos está tirando sarro de quem reclama do apagão
Qual é a razão para esse comportamento? Vaidade, sadismo ou simplesmente uma desconexão total com a realidade?
A história dos militantes de Guilherme Boulos indo à internet para tirar sarro de quem sofreu com o apagão é, no mínimo, uma ideia de jerico. Não sei de onde surgiu essa estratégia, não sei se é uma sabotagem, se é burrice ou se é apenas aquele velho vício de adolescente de colégio rico, que fala contra o capitalismo enquanto desfruta de tudo que ele oferece. O fato é que essa turma está por aí, zombando da desgraça alheia, apontando dedos e perguntando: “Agora vota no Nunes! Mereceu!”. E assim, transformam uma tragédia para milhares de famílias em uma guerra de memes e sarcasmo online.
É de uma estupidez gritante. Qual é a razão para esse comportamento? Vaidade, sadismo ou simplesmente uma desconexão total com a realidade? Seja o que for, o prazer que eles têm ao ir nos perfis das pessoas e fazer pouco caso da situação é evidente. “Ah, você é a favor da privatização? Toma essa então!”, e assim seguem, como se rir da desgraça de quem está sem luz fosse uma tática brilhante para angariar votos.
Ignoram que, enquanto fazem piada, famílias inteiras estão há dias sem energia, enfrentando perdas materiais, insegurança e incertezas. A militância virtual trata a dor alheia como uma oportunidade para superioridade moral, esquecendo que, no final, são justamente essas pessoas que podem definir uma eleição.
No meu caso, a ironia é ainda maior. Estão todos ali, xingando e dizendo que eu mereço por ser “a favor do Nunes,” quando estou falando de Cotia onde, aliás, a esquerda foi a mais votada. Cotia, Embu, Taboão da Serra: todas sofreram mais proporcionalmente que a própria São Paulo com o apagão.
E os militantes virtuais de Boulos acham que é inteligente zoar quem mora nessas regiões. Acham que estão acertando a mira nos adversários, mas, na verdade, disparam contra o próprio pé. O que deveria ser uma oportunidade para criticar a má gestão de serviços públicos se torna um festival de arrogância.
Se essa é a nova estratégia de campanha do Boulos, ele não precisa de inimigos. No segundo turno, ele adotou uma postura mais agressiva, algo que evitou no primeiro turno, talvez por conta do tumulto causado por Pablo Marçal e dos episódios de violência envolvendo outros candidatos, como Datena. Agora, ele está no embate direto, apostando em tiradas e ataques.
O problema é que parece que sua militância confundiu agressividade política com uma licença para humilhar eleitores em potencial. É um erro crasso, uma leitura distorcida do que é necessário para ampliar uma base de apoio.
Os tempos de eleição não são para amadores, e essa militância parece não entender o básico: na política, cada movimento conta, e cada erro é cobrado caro nas urnas. A arrogância é um bicho que come o dono, e os eleitores do Boulos estão alimentando esse monstro. Em vez de converter votos de eleitores do Nunes, preferem gastar energia atacando quem já está frustrado com a falta de serviços públicos. Não percebem que, ao rir do sofrimento alheio, se afastam do eleitorado que poderia dar uma chance a Boulos.
E, como se não bastasse, há ainda a questão da Enel. A concessão da empresa é decidida no nível federal e quem tem o poder de encerrar o contrato é justamente o padrinho político do Boulos: Lula. A população sabe disso, e também sabe que é o governo federal que tem o poder de agir e não age.
Além de enfrentar a falta de energia, as pessoas ainda têm que lidar com um militante do Boulos tirando sarro da cara delas? Que estratégia é essa? Em um cenário de apagão, onde as respostas e a ajuda do poder público são mínimas, a postura dos militantes de Boulos se torna ainda mais desconectada da realidade de quem está sofrendo.
E não se enganem: o eleitorado não é bobo. Ele entende quem é o responsável pela concessão, sabe que a responsabilidade de cobrar melhorias está nas mãos do governo federal, que manteve a Enel, mesmo após todos os problemas anteriores. As pessoas podem até não manifestar sua indignação nas redes sociais, mas essa insatisfação aparece nas urnas.
Resta saber se os militantes de Boulos entendem que rir da cara dos eleitores agora pode custar caro depois. Estão mais preocupados em manter uma postura de “guerreiros da justiça social” na internet do que em construir pontes com aqueles que sofrem diretamente os efeitos do apagão.
Entendo que Boulos precise ser mais incisivo neste segundo turno. Faz parte do jogo político e um embate direto é sempre interessante. Mas a dúvida que fica é se o eleitor tem maturidade para entender que essa postura mais agressiva faz parte do debate ou se vai sempre entender isso como um sinal verde para agir como um troglodita nas redes sociais. Pelo que estamos vendo, parece que a vontade de agir como um porco vence qualquer apelo à civilidade na política atual.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)