Milei x Massa é a sedimentação do voto por medo na Argentina Milei x Massa é a sedimentação do voto por medo na Argentina
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Milei x Massa é a sedimentação do voto por medo na Argentina

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Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 23.10.2023 19:23 comentários
Opinião

Milei x Massa é a sedimentação do voto por medo na Argentina

O segundo turno entre Javier Milei e Sergio Massa na Argentina sedimenta o voto por medo. Ficou claro na votação o medo da continuidade do atual regime de derrocada econômica. Dois terços do país disseram não à continuidade...

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Milei x Massa é a sedimentação do voto por medo na Argentina
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O segundo turno entre Javier Milei e Sergio Massa na Argentina sedimenta o voto por medo
. Ficou claro na votação o medo da continuidade do atual regime de derrocada econômica. Dois terços do país disseram não à continuidade. Por outro lado, o medo da personalidade excêntrica e histriônica de Milei também teve um papel importantíssimo.

A Argentina tem problemas econômicos que já chegaram ao patamar do folclore. Governo após governo, vemos tentativas de solução que deixam as pessoas na penúria financeira e cada vez mais descrentes em uma luz no fim do túnel.

Votar por medo e optar pelo mal menor é uma opção que podemos compreender no nível individual. No coletivo, no entanto, não tem a menor chance de dar certo.

A política que dá certo é aquela que oferece propostas nas quais a população vota porque acredita que são boas. Cada vez temos menos essa oportunidade.

Uma pesquisa recente feita pela Poliarquia Consultores mostra um cenário ainda mais preocupante, o de descrença na democracia. Mais da metade da população argentina diz que aceitaria um governo autoritário se ele resolvesse os problemas do país.

Entre os que têm educação primária, 67% — ou duas em cada três pessoas — aceitariam o tal governo autoritário que resolve. Entre os jovens de 18 a 29 anos, esse percentual é de 56%.

Estamos diante de um cenário altamente preocupante com relação à democracia, que não tem oferecido alternativas para a população. As pessoas não se sentem representadas nem pelos políticos nem pelas ideias que eles querem colocar em prática.

O pior de tudo é que não se sentem incluídas no modelo de democracia representativa, que precisa se renovar e passar a promover um debate saudável em torno de propostas concretas de futuro.

Se o cenário é ruim para os cidadãos, é maravilhoso para os populistas. É desse chorume autoritário que eles se alimentam para fazer uma política pequena, movida a gritaria, emoções estridentes e medo.

O populista é aquele que se coloca como único representante legítimo do povo. Não porque ele tenha os votos, mas porque se apresenta como quem fala a língua do povo e tem interlocução direta com ele.

Quando há uma crise de representatividade, o embate entre dois populismos diferentes favorece ambos. Um vira a antítese do outro e a única solução para evitar a catástrofe que a população teme. Cada grupo da população vai eleger qual a pior catástrofe e votar em quem estaria credenciado a evitá-la.

O problema é que as pessoas sabem o que querem evitar, mas nem imaginam o que estão ajudando a construir. Isso fortalece o autoritarismo.

O eleitor precisa aprender a lidar com o medo, o que é difícil. Não superamos o medo nem deixamos de ter medo, mas decidir com base nessa emoção é outra coisa. As decisões políticas necessitam de clareza, e nada na política atual favorece isso.

A democracia está em crise no mundo todo e precisa urgentemente se reinventar. Os partidos precisam começar a oferecer soluções propositivas, ainda que seja alta a tentação do bate-boca com resultado eleitoral satisfatório.

Não há nenhum risco maior para a democracia do que a sensação de não fazer parte dela. Na guerra de medos, o eleitor se sente alijado, impotente e desamparado. Esta eleição na Argentina será inevitavelmente decidida dessa forma, tanto faz qual seja o resultado. Resta saber se o próximo presidente investirá em virar esta página ou reescrever a mesma coisa.

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