A sensação de ser feito de palhaço é inevitável quando vemos os irmãos Batista, em especial Joesley, entrando pela porta da frente do Palácio do Planalto. No entanto, isso é o mais puro suco de Brasil e só mudará quando nós, como povo, mudarmos. Reclamamos dos políticos, com razão, mas eles são o espelho da sociedade. Vivemos em uma sociedade permissiva com a corrupção, e o volume de pessoas verdadeiramente indignadas com todos os tipos de corrupção é pequeno.
O mais comum é a indignação seletiva: a pessoa se revolta com a corrupção do adversário, mas justifica a do seu lado. “Não foi bem assim”, “estão distorcendo”, “é fake news”, “todo mundo faz”, “ele só fez o que todos fazem”, “não dá para fazer política sem sujar as mãos” – desculpas não faltam. Isso ocorre porque nossa sociedade aceita a corrupção. Quem se recusa a participar de falcatruas muitas vezes é ridicularizado por não aproveitar a oportunidade.
A realidade é que não teríamos pessoas corruptas em cargos de poder por tanto tempo, em todos os matizes ideológicos, se a sociedade não fosse leniente. Ninguém nasce corrupto. Aprendemos que não há limites observando nossos líderes. Se a sociedade não fosse permissiva, uma pessoa com tendência à corrupção teria suas asinhas cortadas logo no início da carreira. Mas, em vez disso, nossa sociedade incentiva o oposto. Muitas pessoas começam suas vidas profissionais com boas intenções, até que desanimam e se rendem à corrupção ao verem que estão “dando murro em ponta de faca” enquanto todos ao redor aceitam a situação.
O caso de Joesley Batista exemplifica outra falha nossa: a total falta de respeito pelas instituições pátrias, como a presidência da república. É difícil imaginar qualquer reunião de poderosos brasileiros, políticos e empresários, feita apenas de gente com ficha limpa. O tema aqui nem é esse, é outro, a consciência sobre a importância das instituições da República. Joesley traiu a confiança do presidente Michel Temer e da instituição Presidência da República ao gravar secretamente uma conversa com Temer e entregar a gravação ao Ministério Público para obter um acordo de delação.
No Brasil, muitos vão se perguntar: “E daí?” Isso ocorre porque não temos zelo ou amor pelas instituições. Se tivéssemos, a recepção de Joesley no Planalto teria sido condicionada a um pedido de desculpas público e convincente ou a uma punição adequada pela gravação do presidente, em local pertencente à Presidência, sem o consentimento dele. No entanto, não exigimos isso porque não nos importamos, e essa indiferença se reflete em quem ocupa a presidência. Nesse ciclo de descaso, acabamos permitindo que qualquer um ocupe cargos de poder.
Será que temos disposição para mudar essa realidade? Será que é possível? Se quisermos um futuro diferente, precisamos começar a agir agora. O primeiro passo é parar de ter vergonha de ser quem somos. Somos lenientes com a corrupção e, para nós, o conceito de “não criar caso” é um valor mais importante que a honestidade. Somente encarando os fatos acharemos soluções.