Lula lacra com Globo de Ouro de Fernanda Torres
Os artistas que poderiam simplesmente aproveitar o momento e celebrar sua arte, escolhem pagar pedágio político.
O sucesso de Ainda Estou Aqui no Globo de Ouro poderia ser uma celebração simples e genuína. Poderíamos estar felizes por uma atriz talentosa e um diretor dedicado que conquistaram um reconhecimento internacional raro. Mas, como tudo no Brasil, a vitória foi capturada pela política e transformada em palco de lacração.
Fernanda Torres e Bruno Barreto são exemplos de excelência em suas áreas. Ela, nascida em um berço privilegiado na área da dramaturgia, aproveitou cada oportunidade e se dedicou à arte com afinco. Ele, um bilionário de nascençça obcecado por cinema, construiu uma carreira de prestígio. A vitória foi deles, fruto de talento e trabalho duro. Mas, no Brasil, vitórias individuais são quase ofensivas, ainda mais se os vitoriosos não forem uma minoria. Tudo precisa ser coletivizado, encaixado em uma narrativa maior, porque admitir o mérito pessoal parece um tabu.
Não bastasse isso, o conteúdo do filme vai contra o script da cultura dominada pela lacração. Em um momento em que progressistas tentam transformar a figura da mãe em algo impessoal, reduzido a termos técnicos como “parturiente”, Ainda Estou Aqui celebra a família, o amor e as lutas cotidianas. É um filme sobre conexões humanas, mostrando o Rio de Janeiro pelo lado bonito, sem apelar para clichês de glamourização de traficantes, violência ou degradação. Um filme para a família, sem lição de moral forçada ou jogral ideológico.
Mas isso não cabe na narrativa progressista. Para os lacradores, o sucesso de Ainda Estou Aqui só pode ser explicado por suas próprias pautas: “Ah, o filme tem uma crítica à ditadura!”. E o que vamos ver a seguir é previsível: uma enxurrada de filmes mequetrefes, com o traficante oprimido pela ditadura, minorias enfiadas goela abaixo no enredo, e bandeirinhas de todas as cores tremulando no meio do caos. Não importa que o público não goste, a elite cultural segue determinada a “trocar o povo”, ao invés de ouvir o que ele quer.
E aí entra Lula, nosso Rei Sol, tentando capitalizar uma vitória que não é dele. Até compreendo que o presidente queira surfar na onda do sucesso, afinal é o que políticos fazem. Mas o que dizer dos jornalistas, artistas e influenciadores que embarcam nessa narrativa delirante de que o Globo de Ouro foi uma “vitória da democracia”? Como assim? Desde quando um prêmio internacional para um filme é sobre democracia brasileira? Alguém no exterior sabe onde fica o Brasil ou se importa com o que acontece por aqui?
O mais constrangedor é ver pessoas lacrando no Twitter, celebrando uma conquista que muitas vezes nem entendem. Aposto que boa parte dos que estão fazendo textão nem assistiu ao filme. Enquanto isso, o brasileiro comum, que poderia estar feliz por ver uma atriz querida ganhar um prêmio, é empurrado para fora da celebração. Tudo virou política, e quem não se alinha à narrativa dominante é excluído. Até a alegria foi politizada.
Os artistas que poderiam simplesmente aproveitar o momento e celebrar sua arte, escolhem pagar pedágio político. E os jornalistas, que deveriam ser críticos e imparciais, transformam tudo em plataforma para bajular os poderosos. Sobrou pra gente: o público, preso em um país onde tudo virou palanque.
E o que resta para a cultura brasileira? A arte está sufocada pela lacração, transformada em veículo para “liçãozinha de moral” em vez de expressão genuína. O cinema colapsa sob o peso de agendas políticas, e nós, ao invés de resistir, damos mais um passo rumo ao precipíco. Tomara que 2025 traga filmes que sejam apenas filmes.
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Comentários (1)
DUILIO RIBEIRO BARBOSA
08.01.2025 06:31"E o que resta para a cultura brasileira? A arte está sufocada pela lacração, transformada em veículo para “liçãozinha de moral” em vez de expressão genuína." Síntese perfeita! Parabéns pelo excelente e preciso artigo.