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Lula escala Haddad para sua quarta derrota seguida

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Felippe Hermes
7 minutos de leitura 10.12.2022 16:14 comentários
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Lula escala Haddad para sua quarta derrota seguida

Após ser derrotado como candidato a prefeito, presidente e governador, Fernando Haddad foi convocado para cuidar da Economia e conciliar o inconciliável: mais gastos em um mundo...

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Lula escala Haddad para sua quarta derrota seguida
Foto: Reprodução/TV Cultura

Após ser derrotado como candidato a prefeito, presidente e governador, Fernando Haddad foi convocado para cuidar da Economia e conciliar o inconciliável: mais gastos em um mundo em recessão.

A primeira década do século 20 esconde um dos maiores eventos brasileiros no que se refere ao “desenvolvimento capitalista”. O boom pelo qual passava o mundo em um tímido ensaio de globalização, interrompido pela primeira guerra mundial, deixou marcas ainda hoje vistas no país.

Trata-se do período com maior aberturas de capital na história do mercado financeiro brasileiro. Cerca de 230 entre 1903 e 1907, mais do que o dobro do recorde mais conhecido, o de 2003-2007.

Foi neste período que, capitaneado por investimentos externos e um amplo programa de desestatização legado por Campos Salles, a malha ferroviária saltou de 9,5 mil Km para 29 mil Km (o mesmo número existente hoje).

Empresas ferroviárias encontravam farto capital na bolsa, graças a um país que exportava como nunca os produtos que o mundo demandava. Nossos produtos também valiam mais, com a borracha passando a valer £900 libras a tonelada, contra £300 no início do século.

O café, principal produto exportado pelo país, passou a financiar a industrialização, com foco especial em São Paulo. Grandes empresários, como a dupla Gaffrèe e Guinle, disputavam a expansão do setor elétrico com grupos estrangeiros, levando eletricidade a estados como Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. As indústrias reunidas Matarazzo também rumavam para tornar seu fundador, o Conde Francisco Matarazzo, o brasileiro mais rico da história, com um patrimônio estimado em US$20 bilhões quando da sua morte.

A política entretanto é o que torna este período “esquecível”. Com 18,4 milhões de habitantes, o Brasil decidiu eleições com um total de 660 mil eleitores (de 1,2 milhão de eleitores aptos). De longe, não é o que se convém chamar de democracia liberal.

Mas estudar ou relembrar a história não deve ser feito para nos sentirmos mais virtuosos de não cometer as mesmas imoralidades de outros tempos, e sim para entender contexto, e principalmente, evitar erros.

Em comum, este período foi marcado por dois fatores, um externo e outro interno. No campo externo, o boom de commodities. No campo interno, uma estabilidade monetária e contas públicas em ordem, graças ao grande ajuste de 1898-1902.

Passado mais de um século, o cenário não é lá tão diferente.

Claro, nos tornamos um país urbano, com maior grau de educação e com uma democracia muito mais sólida, mas estruturalmente, sofremos de problemas similares, o que remonta ao fracasso daquele período: a ausência de instituições inclusivas.

Nossas instituições ainda são moldadas para favorecer a elite, seja através do judiciário, com 812 mil presos no país, sendo 41,5% sem julgamento (dos quais 64% pretos) e tantos condenados soltos graças ao seu poder econômico para recorrer indefinidamente.

Temos um orçamento que privilegia os ricos, com R$340 bilhões em subsídios. Trata-se de uma distorção tão grande, que mesmo políticas criadas para favorecer os mais pobres, como isenção de produtos da cesta básica, acabam por favorecer os mais ricos (imagine, por exemplo, que salmão possui isenção de imposto por se tratar de um peixe, algo básico).

A maior similaridade com nossas tragédias históricas, porém, está na contínua dependência de um cenário externo favorável que compense os fracassos internos.

E é neste cenário que o novo governo escalou para atuar o advogado e mestre em economia, Fernando Haddad.

Veja, Haddad possui suas qualidades na área, ou possui o mérito de não ter os defeitos comuns a outros tantos economistas que fazem a cabeça do presidente eleito.

Em 2013, por exemplo, o então prefeito de São Paulo foi ao encontro da presidente da República argumentando que subsidiar as passagens de ônibus em São Paulo não seria suficiente para amenizar a inflação.

Ao argumentar o óbvio Haddad saiu com uma resposta negativa.

É justo dizer que um prefeito não possui poder para contrariar o presidente, além de também ser justo dizer que argumentar o óbvio com Dilma Rousseff não é uma tarefa fácil.

Haddad contava com apoio de pessoas ligadas ao tal mercado, além de acadêmicos, para implementar certas obviedades. Tudo isso é ponto para ele. Mas o placar não é lá tão favorável quando avançamos na sua carreira política.

Para piorar, o cenário que o novo ministro da economia enfrentará, é um cenário que joga contra.

Desde que Lula tornou-se vitorioso nas eleições, a expectativa de juros para 2024 subiu 3%, saindo de 11% para 14%, o que sobre uma dívida bruta de R$ 7,8 trilhões, implica em um custo anual de até R$264 bilhões a mais em juros.

A desconfiança é crescente. No câmbio, um fator crucial para a inflação, o Real permanece igual ao do dia da eleição, enquanto outras moedas emergentes avançam. Vai se formando o clássico “prêmio de risco”.

Haddad inicia sua gestão sob um clima de “mais gastos”, com Congresso e Executivo discutindo juntos sobre mais gastos.

Caberá a ele navegar neste cenário e liderar uma vitória interna, a Reforma Tributária.

Trata-se de mais uma obviedade que um candidato sem força política própria, terá de apresentar a um Congresso sem clima de reforma, com uma base governista que há quase uma década sabota reformas.

Haddad assume o cargo após derrotas políticas, com uma narrativa fracassada pela realidade de desenvolvimento via gasto público por parte do partido eleito, uma ansiedade do eleitorado por populismo fiscal e uma economia externa em recessão.

O clima que o candidato terá de manobrar, não conta com folga externa. Temos uma Europa ainda em crise por preços de energia em alta, uma economia americana em recessão e a China lidando com problemas internos graças a sua política de lockdown e “Covid 0”.

Em outro ponto relevante, o país e o mundo também são mais velhos do que aquele que Lula encontrou pela primeira vez.

Por aqui, a média de idade da população avançou 8 anos em relação a 2002. Trata-se de mais gastos com previdência e saúde. Na China, uma população mais velha e mais urbana significa um crescimento menor por produtos como soja e minério de ferro, o que invariavelmente significa menos dólares por aqui.

Não há colher de chá por parte do mundo, como também não há pelo Congresso ou pelo próprio governo.

Há, claro, esperança. A esperança de que o Brasil, por força da necessidade, entenda que precisará passar uma reforma tributária que simplifique impostos e aumente a produtividade, que há 4 décadas não cresce por aqui.

Resta a esperança de que, pressionado pelo tal mercado, o governo busque uma vitória política no Congresso para sinalizar virtude e força. Em se tratando de um governo pautado pelo sindicalismo, a administrativa jamais cumpriria tal função, o que coloca o peso sobre uma reforma tributária.

Haddad neste cenário tem a obrigação de mais uma vez defender o óbvio, fazendo jus ao apelido de “mais tucano dos petistas”. Não é nem de longe um radical, ao contrário do que sua monografia escrita há 32 anos possa indicar.

O problema, claro, está em depositar as esperanças em uma vitória política de Fernando Haddad.

*Felippe Hermes é jornalista, editor do Blocktrends

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