Lula é Kamala. Bolsonaro é Trump. E daí? Lula é Kamala. Bolsonaro é Trump. E daí?
O Antagonista

Lula é Kamala. Bolsonaro é Trump. E daí?

avatar
Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 06.11.2024 01:52 comentários
Narrativas Antagonista

Lula é Kamala. Bolsonaro é Trump. E daí?

Sinto muito desapontá-los, mas o próximo presidente americano será irrelevante para nós

avatar
Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 06.11.2024 01:52 comentários 3
Lula é Kamala. Bolsonaro é Trump. E daí?

Se há algo que parece passar despercebido no calor das discussões políticas no Brasil, é a irrelevância absoluta das opiniões de Lula e Bolsonaro sobre as eleições dos Estados Unidos. Sim, isso mesmo: o que eles acham de Kamala Harris ou Donald Trump não tem impacto algum em Washington. Nenhum.

Vejamos o cenário atual. Lula, o presidente da República, declara seu apoio a Kamala como se isso fosse mover algum ponteiro na eleição norte-americana. Bolsonaro, fiel ao seu estilo, expressa abertamente seu apreço por Trump, como se os eleitores americanos estivessem ansiosos para saber o que ele pensa. Mas, honestamente, e daí? Não importa se o presidente do Brasil é fã de Kamala, Trump, ou até do Pato Donald. Lá nos Estados Unidos, isso é só ruído.

A questão é que o público brasileiro, ou pelo menos parte dele, parece incapaz de entender essa desconexão. Importamos o embate Lula versus Bolsonaro para dentro de temas internacionais como se isso fosse relevante para o eleitor norte-americano. A ilusão é de que, se um dos nossos líderes manifesta apoio a um candidato estrangeiro, ele realmente acredita estar influenciando alguma coisa. Não está. Essa dinâmica seria diferente se estivéssemos falando de um país vizinho, na América Latina. Um comentário do Brasil sobre a eleição argentina, ou mesmo paraguaia, poderia ter ressonância. Mas sobre uma potência como os Estados Unidos? É um jogo de aparências. E quem se ilude com ele é só o brasileiro.

Para ilustrar a inutilidade desse jogo, imagine se estivéssemos falando das eleições no Brasil, mas o apoio viesse de Angola. Digamos que o presidente angolano, João Lourenço, publicasse um vídeo apoiando Lula em nossa eleição presidencial. Isso mudaria o seu voto? É óbvio que não. E é óbvio que a opinião de Lula ou Bolsonaro sobre Trump ou Kamala não muda um único voto americano.

Ainda assim, seguimos nessa. Como se o mundo fosse acabar dependendo de quem ocupa a Casa Branca. “Kamala vai confiscar direitos, Trump vai erguer o muro”. Mas, vamos ser francos, o que realmente mudou quando Trump foi presidente? Ele tentou muita coisa, mas os guardrails da democracia americana, construídos e mantidos ao longo de duzentos anos, seguram qualquer um – até mesmo quem queira ou finja querer explodir o sistema. Nos EUA, o sistema é maior que o presidente. O Congresso, a Suprema Corte e as leis se mantêm intactos, segurando as rédeas da democracia. Algo que, convenhamos, não temos por aqui.

Aqui, no Brasil, a nossa democracia é frágil. Mudamos de Constituição como quem troca de roupa, o que coloca em perspectiva o quanto somos inconstantes em nossas “aventuras democráticas”. Nos EUA, há segurança estrutural. Lá, quem passa da linha, seja presidente ou peão, paga. O caso do Capitólio mostrou isso. Quem ousou desrespeitar o sistema foi punido e não foi um teatro para mostrar ao mundo “ficha limpa”. A punição foi para valer, sem essa história de salvar peixe grande e fazer show com os pequenos.

Mas, ainda assim, muitos aqui insistem em romantizar a eleição americana, como se tivéssemos que escolher lados e como se qualquer um dos lados fosse, de fato, nos representar. Sinto muito desapontá-los, mas o próximo presidente americano será irrelevante para nós. E não porque a política externa dos Estados Unidos é uma fantasia, mas porque, para eles, o que importa é o próprio sistema. Seja Trump, Kamala ou quem for, a democracia americana segue firme. Ela não precisa de salvadores; ela precisa de respeito ao que foi construído.

Então, meu conselho? Acompanhemos o show de camarote, mas sem apego emocional. No Brasil, há quem se emocione com tudo isso, com cada palavra de Lula ou Bolsonaro sobre política americana .Mas emoção, em política, nunca deu certo. E, para ser sincera, essa importação de brigas estrangeiras só serve para distrair do que realmente importa aqui.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

O drama da esquerda americana após o triunfo de Trump

Visualizar notícia
2

Musk recruta: QI alto com disposição para 80 horas semanais

Visualizar notícia
3

Branca de Neve woke reclama de Trump e gera crise para Disney

Visualizar notícia
4

Vice-líder do governo: "Até um carrinho de pipoca ameaça os Três Poderes"

Visualizar notícia
5

Explosões em Brasília podem impactar investigação da PF sobre Bolsonaro

Visualizar notícia
6

PT de Lula, Dirceu e companhia reclama de impunidade de Bolsonaro

Visualizar notícia
7

Urgência para criação de ‘SpaceX’ estatal passa pela Câmara

Visualizar notícia
8

Crusoé: Narrativa-bomba

Visualizar notícia
9

Esquerda usa PEC do fim do 6x1 para tentar retomar protagonismo político

Visualizar notícia
10

Dr. Geraldo sextou defendendo redução da jornada de trabalho

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Com bastidores quentes, OAB-MG escolhe novo presidente

Visualizar notícia
2

Caiado não vai procurar Bolsonaro por reconciliação

Visualizar notícia
3

Crusoé: Quanto custaria à indústria abandonar a jornada 6x1?

Visualizar notícia
4

Sebastião Melo: “Time que não joga, não ganha”

Visualizar notícia
5

Crusoé: Truque populista

Visualizar notícia
6

Promotor aponta ligação do PCC com policiais para executar desafetos

Visualizar notícia
7

Meio-Dia em Brasília: Tiozão do Zap é o novo bode expiatório de Xandão

Visualizar notícia
8

De olho no comando do PT, Edinho nega conflito com Gleisi

Visualizar notícia
9

Governo reforça discurso contra anistia após explosões

Visualizar notícia
10

Crusoé: Avança proposta que obriga MST a ter um CNPJ

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Donald Trump Jair Bolsonaro Kamala Harris Lula (PT)
< Notícia Anterior

Elon Musk celebra liderança de Trump

06.11.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Republicanos retomam controle do Senado nos EUA

06.11.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Madeleine Lacsko

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (3)

Marcelo José Dias Baratta

10.11.2024 01:10

Parabéns, o óbvio, por ser tão óbvio, passa despercebido e tem que ser dito. Temos a mania de nos acharmos importantes demais, acho que é um ranço dos governos militares que decidiram impregnar a ideia de que somos mais importantes, no cenário mundial, do que realmente somos, associado ao fanatismo por tudo que também tomou conta de muitos, já vi depoimentos de alguns que tiveram suas relações conjugais, interrompidas por divergências políticas, ou por torcerem por times de futebol outros. Isso demonstra a imaturidade, a bestialidade e a incoerência desses muitos que se permitem extremar. A chave, penso eu, é o equilibrio das coisas, o 8 ou 80 não funciona bem.


HAMILTON ROSA

06.11.2024 08:57

Petista rocha despeitada, kkk, acha que precisa explicar o óbvio...


Marian

06.11.2024 06:07

Somos irrelevantes? Mas a AL não. Certamente essa vitória de Trump irá conter por ora, o desmanche na região, pretendido pelo "nova ordem mundial".


Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
A esquerda elitista que não faz mea culpa por achar que o povo é burro

A esquerda elitista que não faz mea culpa por achar que o povo é burro

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Não existe PEC para acabar com a jornada de 6x1, o texto diz outra coisa. Entenda.

Não existe PEC para acabar com a jornada de 6x1, o texto diz outra coisa. Entenda.

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Leonardo Barreto na Crusoé: Trump assombra o PT

Leonardo Barreto na Crusoé: Trump assombra o PT

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.