Radicais de estimação
Lula e Bolsonaro têm radicais de estimação. Esse é o ponto a que chegamos na tragédia brasileira. As duas maiores forças políticas do país são condescendentes com gente que não apenas cultiva ideias extremadas, mas está pronta a realizar invasões, depredações e confrontos, negando legitimidade a leis e instituições...
Lula e Bolsonaro têm radicais de estimação. Esse é o ponto a que chegamos na tragédia brasileira. As duas maiores forças políticas do país são condescendentes com gente que não apenas cultiva ideias extremadas, mas está pronta a realizar invasões, depredações e confrontos, negando legitimidade a leis e instituições.
Nesta semana, o MST invadiu terras produtivas da Suzano, grande produtora de papel e celulose, no Sul da Bahia (foto). Não há uma vírgula na legislação brasileira, nem mesmo aquela que diz respeito à reforma agrária, autorizando a invasão de terras que estão produzindo.
Diante do incidente, o petista Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, procurou pôr a lei entre parênteses. Convidou as partes para uma negociação, mediada por ele. A Suzano, obviamente, rejeitou o convite. Recorreu ao Judiciário e em 48 horas obteve duas liminares para desocupar os terrenos, inclusive com uso da força policial, se necessário. Não quer dizer que a empresa tenha se negado a dialogar. Disse apenas que o faria depois que a ilegalidade fosse resolvida. Essa é a frase que também deveria ter sido dita pelo ministro de Lula. Seu papel de arbitragem poderia ser adequado, talvez até bem vindo, a partir do momento que não houver mais invasão.
A relação entre o PT e o MST não é inteiramente pacífica. Com poucos dias de governo, um dos líderes dos sem-terra já dizia que a luz amarela estava acesa no movimento. Ele reclamava da demora de Lula em “dar atenção à reforma agrária”. Na prática, era uma exigência de espaço nas estruturas do Incra. A demanda foi atendida, mas, ainda assim, aconteceu a invasão na Bahia. Parece que o MST ainda não está saciado.
O interessante é que mesmo sob chantagem, Lula e o PT não criticam o MST. Em vez disso, passam pano para o movimento. Mesmo quando isso favorece os ataques de seus adversários políticos, que já podem dizer que suas profecias estavam corretas: com Lula, as invasões voltariam a acontecer (e a marcha em direção ao comunismo seria retomada).
Acontece que durante seus quatro anos no governo, Bolsonaro também fez tudo para incentivar uma marcha em direção à ditadura militar. Ele jamais tentou convencer seus seguidores radicais a aceitar os resultados do jogo eleitoral. Também não fez nada para baixar a temperatura nos acampamentos bolsonaristas, mesmo quando abundavam evidências de que as caravanas que se deslocavam para o 8 de janeiro em Brasília não tinham somente intenções pacíficas (e Bolsonaro certamente estava melhor informado sobre o que acontecia naqueles acampamentos do que qualquer observador externo).
Mesmo depois de toda a destruição na Praça dos Três Poderes, o ex-presidente continua passando pano para quem participou daquela insanidade, ainda que apenas dando, aos mais violentos, a certeza de que tinham respaldo. Ele disse que pessoas foram presas no 8 de janeiro mesmo sem ter um canivete que fosse no bolso. É verdade. Mas o vandalismo não precisou de canivetes para acontecer.
Reclame quem quiser sobre “falsas simentrias”. A simetria é bastante evidente. Enquanto não houver políticos dispostos a dizer não aos seus simpatizantes mais radicais, em vez de legitimá-los com palavras e silêncios, o Brasil continuará mergulhado na infelicidade. Lula e Bolsonaro não são esses políticos.
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