Lula e a corrupção do Google
O influenciador Felipe Neto e o deputado André Janones (Avante-MG), entre outros parlamentares governistas, conseguiram jogar ainda mais névoa sobre as discussões levantadas pelo PL das Fake News. Não bastassem as mentiras e meias verdades que...
O influenciador Felipe Neto e o deputado André Janones (Avante-MG), entre outros parlamentares governistas, conseguiram jogar ainda mais névoa sobre as discussões levantadas pelo PL das Fake News. Não bastassem as mentiras e meias verdades que já circulavam, contra e a favor do projeto de lei, agora o Google, transformado no algoz de ocasião do governo Lula, é acusado de associar corrupção ao presidente que esteve no centro (ou no topo) dos dois maiores esquemas de corrupção da história recente do país.
O ingênuo algoritmo não tem tanta malícia para omitir o histórico de buscas e notícias sobre o passado do petista após suas condenações terem sido anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Está programado para ajudar o usuário a encontrar aquilo que deseja — não por ser bonzinho, mas para poder vender esse usuário a seus anunciantes. Para Neto, contudo, o algoritmo errou.
O relator do PL das Fake News, Orlando Silva (PCdoB), louvou a “importante denúncia” do influenciador e cobrou transparência ao dizer que “os algoritmos das Bigtechs conduzem o debate público para onde querem, servem a interesses próprios”. De fato, é possível alegar que esse risco existe, mas não com base nesse caso específico. Vários outros nomes, como Valdemar Costa Neto, Bill Clinton, Vladimir Putin e Donald Trump, tiveram o mesmo destino de Lula na pesquisa acompanhada pela palavra “coroação” — Jair Bolsonaro, pelos mistérios algoritmos, foi associado a “coração”, para o deleite dos conspiracionistas.
O ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, disse que “é grave que o algoritmo do Google, que detém 96% das buscas da internet, sugira o termo ‘corrupção’ quando se pesquisa ‘coroação’”. Para ele, “apesar da confirmação do erro por parte da empresa, o fato é que algoritmos precisam ter regras”. Se a discussão sobre a regulação das redes chegou a esse nível, o que esperar das regras criadas para guiar os algoritmos?
Segundo Neto, que, ironicamente, se tornou influenciador impulsionado pela mesma tecnologia que hoje critica (e talvez esse seja o melhor argumento contra os algoritmos do Google), coroação “não é uma palavra errada ou de rara pesquisa”. Uma busca simples desmente as duas alegações: a ferramenta do Google não sugere alternativas apenas a palavras erradas — e quando foi mesmo que ocorreu a última coroação neste planeta, tirando os concursos de miss?
O tuíte do influenciador foi sinalizado como conteúdo suspeito. “Não é assim que as recomendações algorítmicas funcionam. A equipe do Google não pode forçar o uso do termo aos usuários, mas se destaca o que os usuários mais procuravam e começavam com C ligado com a palavra inicial”, explica a checagem do Twitter. É difícil imaginar que um dos produtores de conteúdo com mais seguidores no país desconheça essa lógica.
Não é a primeira vez que a ferramenta enfrenta esse tipo de questionamento. O Google já foi constrangido — e continuará sendo — por movimentos de causas nobres, por não contemplar representantes de grupos historicamente desfavorecidos em pesquisas e por outras gafes tecnológicas. Esse tipo de pressão política é legítimo, deve haver espaço para debater a tecnologia e as consequências de sua precisão amoral, mas os defensores do PL das Fake News precisam se questionar sobre a validade de vencer mentiras com mentiras. A não ser que o objetivo do PL não seja exatamente combater fake news.
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