Leonardo Barreto na Crusoé: Quem vai pagar a conta?
O país chegará em 2026 tendo gastado três vezes mais dinheiro com políticas distributivas do que com infraestrutura
Em um país com histórico imenso de miséria e desigualdade de renda, é herético perguntar se o volume de recursos transferidos para a base da pirâmide está excessivo. Mas o tamanho do nosso “welfare state” (ou estado de bem-estar social), como apurou o site Poder360, chama muita atenção e cria, na minha opinião, uma realidade dada a partir da qual o país terá que fazer escolhas.
O custo da política de bem-estar social gira em torno de 327 bilhões de reais ao ano. Para se ter uma ideia do que isso significa, vale a pena comparar o montante com o valor de 371 bilhões de reais que foi reservado do orçamento federal para o PAC para os quatro anos do mandato do presidente Lula. Como o governo planeja continuar aumentando o fluxo de recursos por meio de outros programas, como o Gás para Todos e o Bolsa Universitário, pode-se se inferir que o país chegará em 2026 tendo usado pelo menos três vezes mais dinheiro com políticas distributivas do que em investimentos em infraestrutura.
Os números são todos imponentes: 44% dos brasileiros estão no Cadastro Social Único (94 milhões) e um em cada quatro brasileiros está no Bolsa Família; só neste ano, Lula incrementou políticas de transferência em 24%; uma família de até cinco pessoas pode chegar a ganhar por mês, somando outros benefícios estaduais e municipais, até 1.763,50 reais por mês, o que daria para comprar pouco mais de duas cestas básicas; em 12 dos 27 estados há mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada.
O efeito sobre o mercado de trabalho preocupa porque pessoas em idade ativa podem estar deixando de procurar emprego. Esse contingente da população cresceu 4,2% desde 2019, mas a força aumentou apenas 1,8%. Além disso, subiu o percentual de benefícios pagos no total da renda familiar em comparação com recursos vindos do trabalho. Outro problema claro é o fiscal. O próprio governo admite que a dívida bruta deve atingir 81% do PIB já em 2026.
Para o governo, no entanto, mais importante são os números políticos. Na pesquisa de popularidade Quaest, divulgada nesta semana, foi apurado que Lula tem 51% de aprovação. No público com maior potencial de ser beneficiário de programas de transferência de renda, os percentuais são maiores, atingindo 62% (+11 p.p.) entre pessoas que recebem até dois salários mínimos ou que são menos escolarizadas. Está claro que, sem a base da pirâmide, Lula perde sua sustentação.
Politicamente, no entanto, será impossível para qualquer força, à esquerda ou à direita, voltar atrás nesse fluxo de transferência.
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