Leonardo Barreto na Crusoé: Quem tem medo da polarização?
Ao escolher entre PT e PL, o eleitorado não está demonstrando uma disposição de radicalização
Levantamento recente de pesquisas eleitorais nas 100 maiores cidades brasileiras feito pela I3P Consultoria de Risco Político sugere que a polarização nacional terá efeito sobre as eleições municipais. Os dois partidos com maiores vieses de alta são exatamente PL (13 cidades e crescimento de 156%) e PT (8 cidades e crescimento de 216%).
Como este é um jogo de soma zero, em termos percentuais, aparecem como perdedores dois partidos importantes do Centrão — PSD (-44%) e PP (-52%) — e dois da centro-esquerda — PDT (-40,5%) e PSB (-21,6%) — que nas últimas eleições rivalizaram com o partido de Lula pela hegemonia neste campo ideológico.
Na mesma esteira, um extrato do número de novos filiados em partidos políticos mostra que PL e PT foram os partidos que mais ganharam adesões recentemente, em um movimento que alguns analistas chamam de “engajamento pelo ódio”, pois seria estimulado pela aversão que um polo sente pelo outro.
O uso da palavra “ódio” para narrar a tendência de engajamento dá uma pista sobre a maneira equivocada com a qual a polarização tem sido tratada. O principal erro é confundir, propositalmente ou não, esse fenômeno com radicalização.
A política pode ser polarizada e não necessariamente ser radicalizada. Uma coisa é a existência de duas referências partidárias com algum grau de antagonismo em torno das quais o debate político orbita. Outra, bem diferente, é uma política dominada pelos extremos que ocupam as franjas do universo ideológico e apenas ocasionalmente conseguem dominar efetivamente o poder.
Fazer essa distinção é importante porque tira uma enorme lente preconceituosa da frente do observador e autoriza a realização de boas perguntas sobre o tema. Com mais cuidado, é possível perceber que ele está longe de ser algo novo – lembre-se dos luzias e dos saquaremas no Império, republicanos e democratas nos EUA, trabalhistas e conservadores na Inglaterra e PT e PSDB até recentemente. Não se trata de uma degeneração da política, mas de uma forma natural pela qual a debate político tende a se organizar.
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