Leonardo Barreto na Crusoé: O preço do Congresso
Os partidos, que mandavam no governo anterior, aceitaram pedaços do Estado, mas não entregaram fidelidade
O dilema dos países presidencialistas com parlamentos fortes, como é o caso atual do Brasil, é o que ocorre quando o governo não tem a maioria parlamentar. Uma alternativa é compartilhar a gestão, levando a gestão pelo mínimo denominador comum, negociando pequenos consensos sempre que possível.
Outro caminho é exercer um mandato plebiscitário, convocando a população para as ruas ou para votar em consultas populares para forçar o desempate nos temas mais caros ao presidente. Essa é uma opção fartamente utilizada em tentativas de concentração de poder e submissão do Legislativo e do Judiciário à figura de um presidente carismático e autoritário.
No caso do Brasil, Lula gostaria de se impor a partir da mistura light das duas soluções: distribuir nacos do Estado em troca de apoio e adotar medidas populistas para ganhar popularidade e capacidade de impor-se como força natural e irresistível.
Uma vez eleito, o petista agiu como um cliente que chega a um restaurante e escolhe a melhor mesa do recinto. Ao ser informado de que o lugar está ocupado, não se faz de rogado e senta-se mesmo assim, fingindo que os outros fregueses não estão ali. Ele tem certeza de que, em algum momento, quem chegou primeiro vai “se tocar” e liberar o espaço espontaneamente.
A estratégia, no entanto, falhou. Os partidos, que mandavam no governo anterior, aceitaram pedaços do Estado, mas não entregaram fidelidade, criando um jogo de autoengano que atende pelo nome de “frente ampla”, uma ficção.
Além disso, as enormes somas de dinheiro despejadas em políticas de transferência não surtiram o efeito desejado e Lula se encontra, hoje, com aprovação menor do que Jair Bolsonaro quando deixou Brasília no final de 2022. O presidente nem cooptou o suficiente, nem reuniu força popular para se impor.
Agrava a conjuntura saber que o governo já tirou todos os coelhos da cartola gastando tudo o que não podia e o que está sendo cobrado é uma redução dos gastos.
O cenário de inflação, juros altos e fragilidade política — evidenciada pelos resultados das eleições municipais e pelo recorrente pedido de auxílio que o Executivo tem feito ao Judiciário para reverter derrotas políticas – é uma realidade cada vez mais palpável que desafia um Lula…
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