Leonardo Barreto na Crusoé: A curiosidade de Deus
De acordo com o jornalista Jack Miles, Ele nos fez para se entender. Ao interagir conosco, Ele estaria buscando saber quem Ele é
Certo dia encontrei um antigo professor dos meus tempos de Universidade.
Após os cumprimentos amigáveis e muita deferência da minha parte, ele me contou que estava voltando de uma ida à igreja e que havia se tornado um fiel após a aposentadoria.
Sendo nós dois egressos do mesmo ambiente racionalista, confesso que fiquei curioso.
Como foi possível a transformação daquele grande materialista?
Imaginei que a proximidade do inverno do corpo e as questões inevitáveis sobre o outro lado haviam sensibilizado o meu antigo mestre.
Na ocasião, no entanto, não houve chance de questionar suas razões.
No dia seguinte, encontrei-me com um colega de turma e comentei o caso da conversão do nosso professor.
Para o meu espanto, ele começou a chorar.
Ao perguntar o motivo, ele percebia ali um ato de humildade que o comovia, afinal, como um homem com tanto estudo se rendia, agora, a ser guiado pelo mistério da religião?
Passei a refletir muito sobre o tema e me veio à memória um outro cientista político muito renomado, hoje já falecido, que foi meu chefe em uma agência de análise de risco.
À época, ele já estava doente, mas não parecia muito preocupado com o porvir.
Em um jantar no qual já havíamos bebido um pouco e deixado o trabalho de lado, perguntei se ele acreditava em Deus.
Ele disse que essa era uma questão que não o importava.
Quando eu quis saber o motivo, ele me disse, rindo, que nós não entendíamos nem o Congresso Nacional, como poderíamos partir para essa discussão?
Os três episódios, todos eles reais, trazem o dilema entre crer e conhecer.
Isso porque a noção mais comum de fé pressupõe uma entrega, um salto no vazio, algo até bastante democrático porque não exige diploma universitário para tanto.
Mas esse me parece um falso dilema, pois a fé não é sinônimo de ignorância.
Uma boa maneira de abordar essa questão é discutir sobre antítese da ignorância que é o agir pela curiosidade. Por que queremos sempre saber a razão de tudo?
Chales Darwin responderia que este é o traço do comportamento dos mais aptos à sobrevivência e à perpetuação.
Platão diria que é uma reminiscência que todos temos de um mundo ideal, de ideias, no qual não temos mais lugar.
Mas há uma outra fonte, interessantíssima, pode nos ajudar a partir daqui.
O jornalista Jack Miles, que também é doutor em Línguas do Oriente por Harvard e professor da Universidade da Califórnia, resolveu fazer uma leitura do Velho Testamento tentando resolver o seguinte desafio. Se as Escrituras contam uma história…
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Comentários (1)
DOUGLAS PAULICH JUNIOR
21.12.2024 18:31Otimo artigo! Deus não nos fez para se auto conhecer, mas para espelhar Ele em nós. Deus está no negócio de edificação; nao de edifícios de concreto, mas de pessoas! Ele as edifica para serem como Ele!