Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura
Proibição de algo, muitas vezes, induz à prática ou no mínimo o interesse. Censura chama a atenção àquilo que é censurado
Certa vez, numa escola religiosa, a madre superiora observou que as alunas ficavam olhando para os seminaristas. Ela perguntou: “Por que vocês só se interessam pelos seminaristas, não sabem que eles não podem namorar?”. Ao que elas responderam: “É que o proibido é mais gostoso”.
Essa historinha mostra bem como a proibição muitas vezes induz à prática ou, no mínimo, o interesse. Lembro que na fazenda de uma instituição religiosa que conheci, com várias cachoeiras, colocaram uma placa dizendo: “Proibido nudez”. Tiveram que retirar a placa, pois notaram que ela estava incentivando aquela prática que proibia.
No caso da censura – que é remoção ou proibição de circulação de informação ou de bens simbólicos – a situação é semelhante: a censura chama a atenção àquilo que é censurado.
A Igreja Católica, por exemplo, parou de proibir filmes já há várias décadas pois notou que a proibição os promovia enormemente. O sucesso comercial de La Dolce Vita, de Fellini, por exemplo, se deve em grande parte à proibição da igreja.
Em tempos de internet, essa situação é ainda mais ressaltada: ganhou até nome o efeito de proibir ou tentar censurar algum tipo de informação que se volta contra o censor. É o Efeito Streisand, termo relacionado à atriz americana Barbara Streisand, que tentou censurar uma foto de sua propriedade, foto que havia sido vista poucas vezes. Depois do processo, ela foi compartilhada centenas de milhares de vezes na internet.
É um paradoxo: a censura chama atenção àquilo que é censurado. É preciso um enorme aparato para reverter esse efeito, que envolve mais censura, ações judiciais, cerceamento das liberdades individuais.
Nesse sentido, o trecho do relatório do Congresso americano sobre a censura no X (ex-Twitter) no Brasil é bastante eloquente: “Moraes ordenou a censura de um cidadão brasileiro por criticar Moraes por censurar brasileiros.”
A censura virou um círculo vicioso. É preciso censurar cada vez mais para manter a censura ativa. É como um antibiótico que precisa ser dado em doses cada vez maiores, o que pode terminar por matar o paciente.
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