Jerônimo Teixeira na Crusoé: O que perdemos quando perdemos o X
As redes sociais ocuparam um lugar central em nossas discussões e interações, mas é incerto que estejamos vivendo melhor graças a elas
Parece que Elon Musk está em dificuldade para encontrar um representante legal no Brasil. Não é para menos: trata-se de um posto delicado, para colocar o problema de forma também delicada. Enfim, o autoproclamado “absolutista da liberdade de expressão” dá sinais de que está cedendo em sua queda de braço com Alexandre de Moraes. A suspensão do X talvez ainda seja revertida.
Embora eu tenha escrito sobre os perfis interessantes que eu seguia por lá, não tenho sentido falta do ex-Twitter. Pode ser difícil apontar o que se perde exatamente quando uma rede social é fechada. Redes que alcançaram certa popularidade, como MySpace e Orkut, morreram sem que ninguém chorasse por elas. A indiana Koo, que alguns indicaram como uma alternativa ao ambiente “tóxico” que Musk estaria criando no X, encerrou suas operações em julho, dando aos brasileiros a deixa para muitos trocadilhos infames. Em todos esses casos, claro, a morte foi por inanição, não por ordem judicial. Que um juiz tenha o poder de fechar um serviço usado por 22 milhões de cidadãos ainda me parece excessivo (para falar, de novo, de forma delicada).
Nos Estados Unidos, é o Tik Tok que corre o risco (ainda distante) de ser banido. A parte do leão da rede pertence à empresa chinesa ByteDance e uma medida do Congresso americano – aprovada com apoio dos dois partidos – exige que ela seja vendida a um proprietário americano, sob pena de fechamento. O prazo para a venda é até início do ano que vem, mas as disputas judiciais sobre o tema podem se arrastar por mais tempo.
O temor dos congressistas é que o Partido Comunista Chinês interfira na ByteDance para fazer propaganda no Tik Tok ou até para roubar dados de seus usuários. O governo chinês de fato não merece confiança, mas duvido que os 170 milhões de americanos que usam a rede sairão convencidos da beleza do modelo político chinês assistindo a vídeos de dancinhas bestas. Lá como aqui, juízes e legisladores tratam o cidadão como um cachorro de Pavlov, suscetível a ser condicionado pelo que vê nas redes.
Não lembro mais onde li uma defesa do fechamento do Tik Tok argumentando que tal medida não representaria um cerceamento da liberdade de expressão. Os usuários da rede social banida não estariam sendo censurados, pois poderiam buscar outras redes e canais para propagar suas ideias.
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