Jerônimo Teixeira na Crusoé: Bezos confronta crise de credibilidade da imprensa
Dono do The Washington Post, o bilionário da Amazon tem boas razões para vetar o apoio do jornal a Kamala Harris
O jornal The Washington Post decidiu não declarar apoio a Kamala Harris e perdeu 200 mil assinantes. É claro que a decisão desse tradicional veículo da imprensa americana não foi formulada nesses termos particularizados: The Washington Post anunciou que daqui por diante deixará de declarar apoio a qualquer candidato à presidência dos Estados Unidos.
A expectativa dos leitores que cancelaram suas assinaturas, no entanto, era que de que o jornal que revelou o escândalo de Watergate apoiasse a candidatura de sua preferência. Não, não seria Trump: os trumpistas já não leem o Post há tempos.
O jornal, que endossava candidatos presidenciais desde 1976, estava mesmo preparado para declarar sua preferência pela candidata do Partido Democrata. O artigo com as razões para tanto (suponho que “Kamala Harris não é Donald Trump” seria o argumento central) já estava escrito quando Jeff Bezos, proprietário do Post (e da Amazon), puxou o plugue.
Embora o dono da Amazon seja um opositor de Trump, aventou-se a suspeita de que razões empresariais tenham pesado na sua decisão.
A Blue Origin, sua empresa de exploração espacial, tem um contrato de 3,4 bilhões de dólares com agências federais para a construção de uma nave que pousará na Lua. Dave Limp, presidente da companhia, teve um encontro com Trump em 25 de outubro – a mesma sexta-feira em que o Post anunciou que não referendaria candidato algum.
Em artigo no seu jornal, Bezos diz que não tinha conhecimento do encontro, chamado de última hora pela equipe de Trump – e que só pode reagir à infeliz coincidência com um suspiro desalentado.
Seguiram-se as indefectíveis manifestações de indignação. Em uma declaração conjunta, Bob Woodward e Carl Bernstein – a dupla de jornalistas que investigou a ligação do governo Nixon com a atrapalhada espionagem do comitê eleitoral dos democratas em 1972 – afirmaram que a decisão ignora “as avassaladoras provas levantadas por repórteres do próprio Washington Post sobre a ameaça que Donal Trump representa para a democracia”.
Inglês radicado nos Estados Unidos, Simon Schama, o grande historiador de Paisagem e Memória e A História dos Judeus, foi mais dramático: em publicação no X, disse que a mudança da política do jornal é um “abjeto colapso moral”…
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