Jerônimo Teixeira na Crusoé: Churrascão cordial em Lisboa
Os eventos internacionais com ministros do STF e outras figuras públicas provam que, no Brasil, as relações institucionais são demasiado pessoais
O Gilmarpalooza começa amanhã, em Lisboa.
Digo, começa amanhã para mim, que escrevo este artigo na terça-feira 25. Para você, que lê Crusoé no primeiro dia de circulação, sexta-feira, o evento promovido pelo IDP, instituição fundada pelo ministro Gilmar Mendes e dirigida por seu filho, já está em seu último dia. Não importa: eu poderia escrever este artigo no ano passado ou no ano que vem, e ele seria o mesmo. Lisboa pode até ser abalada por um terremoto seguido de tsunami, como ocorreu em 1755, e isso não faria diferença substancial no que direi.
Em sua 12ª edição, o Fórum de Lisboa – esse é o nome oficial do Gilmarpalooza, que deixou de ser exclusivamente “jurídico” – já integra virtualmente o calendário oficial do Brasil. Atividades são suspensas para que representantes dos três poderes possam comparecer. Ministros do STF e do governo Lula estarão lá, ao lado dos presidentes da Câmara e do Senado. No campo econômico, o mais ilustre convidado é Roberto Campos Neto, tido pelos petistas – a começar por Lula – como o verdugo do governo. O capítulo mais recente da treta entre o presidente da República e o presidente do Banco Central diz respeito a um fenômeno da vida nacional que também se verifica no festerê lisboeta: a indistinção dos limites entre o que é pessoal e o que é institucional, entre o que é privado e o que é público.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, provável candidato presidencial em 2026, ofereceu um jantar em homenagem a Campos Neto. Como a reunião mais recente do Copom não baixou a taxa Selic, o encontro para lá de amigável da dupla insuflou a grita petista contra a autonomia do BC.
Do ponto de vista institucional (política monetária é outra história), Lula e seu séquito teriam razão para estrilar. Só faz sentido falar em Banco Central autônomo quando a instituição defende a moeda nacional a partir de insuspeitos critérios técnicos, o que exige de seu presidente uma compostura também técnica, sem brechas para manifestações de simpatia por políticos ou partidos. O convescote com Tarcísio compromete essa compostura, para dizer o mínimo.
Leia mais aqui; assine Crusoé e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)