Jerônimo Teixeira na Crusoé: A Vaza Toga só interessa a quem se interessa por democracia
São desonestas as vozes da imprensa e da política que dizem que o escândalo envolvendo Alexandre de Moraes serve apenas aos interesses do bolsonarismo
Elvira Cupello Calônio morreu estrangulada com uma corda de varal, a mando do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O crime se deu em 1936, no Rio de Janeiro, em uma casa onde membros do PCB se escondiam depois do malogro da Intentona Comunista, no ano anterior. Também ela militante comunista, a vítima, sem saber, havia caído em desgraça no Partidão. Luís Carlos Prestes estava convencido de que Elza Fernandes – pseudônimo que Elvira adotou para suas atividades clandestinas – entregara informações à polícia, o que nunca ficou provado. O veredicto do “Cavaleiro da Esperança” prevaleceu sobre a avaliação de outros líderes partidários, que hesitavam em dar a ordem fatal. Elvira (ou Elza) tinha 16 anos quando foi assassinada.
Essa história está muito bem contada no romance Elza, a Garota, de Sérgio Rodrigues. Obra de ficção amparada em abrangente pesquisa histórica, o livro acompanha Molina, um jornalista que, já no século XXI, decide investigar esse episódio nada glorioso da história do PCB. A certa altura do livro, ele fala de seu projeto a Zé, amigo dos tempos de faculdade que é “filiado de primeira hora e eleitor fundamentalista do Partido dos Trabalhadores”. “A quem interessa contar essa história?”, questiona Zé, depois de ouvir o antigo colega.
A pergunta define não só esse personagem secundário de Elza, a Garota, mas um tipo de intelectual: aquele que recusa a verdade se ela servir de alguma forma a seus inimigos políticos.
Em uma série de reportagens, a Folha de S. Paulo vem publicando mensagens que um assessor direto de Alexandre Moraes trocava com um funcionário do TSE. Com informalidade atípica para o meio jurídico, o primeiro pede laudos ao segundo, para embasar decisões do ministro do STF em seus intermináveis inquéritos. Desde que a primeira reportagem foi publicada, no dia 13, têm-se repetido por aí, em variadas formulações, a pergunta casuísta de Zé: “A quem interessa contar essa história?”. Aqueles que a fazem já têm a resposta pronta: interessa só aos bolsonaristas.
A resposta é parcialmente correta. A pergunta é completamente equivocada.
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