Jerônimo Teixeira na Crusoé: A política do fracasso
Os movimentos mais rumorosos e radicais da paisagem contemporânea talvez sejam movidos pelo desejo inconsciente de que tudo dê errado
Sou um pessimista.
Acho que sempre fui pessimista. Talvez nunca deixe de ser.
Não é coisa de que me orgulhe. Não se trata de uma opção filosófica: sou constitutivamente pessimista e não poderia ser diferente. Meu espírito é saturnal; meu humor é envenenado pela bile negra.
Recentemente, li uma interessante defesa do otimismo na Quillette, excelente revista digital americana. Bem, na verdade, não cheguei propriamente a ler o texto, que só está disponível mediante paywall. A Quillette gentilmente produziu um vídeo, disponível em seu site e no YouTube, no qual uma moça lê o texto em voz alta e clara, acompanhada por imagens que ilustram os argumentos. Foi assim que assisti a “The seven laws of pessimism” (As sete leis do pessimismo), ensaio do belga Maarten Boudry, filósofo da ciência da Universidade de Ghent.
Na linha do Steven Pinker de Os Anjos Bons da Nossa Natureza, Boudry é um otimista profissional. Esses discípulos tardios de Pangloss amparam seus argumentos em abundantes dados demográficos. Demonstram didaticamente que a porção da humanidade que vive na miséria ou que sofre com guerras nunca foi tão baixa. Tenho minhas reticências com a ênfase na proporção, quando os infelizes do presente excedem os do passado em números absolutos. Mas tudo bem: Boudry vende bem a noção de que vivemos em um admirável mundo novo.
O ensaio enumera sete razões pelas quais tanta gente (eu inclusive) acha que tudo piora quando na verdade melhoramos um pouquinho a cada dia. São as tais leis do pessimismo de que fala o título. As três primeiras envolvem, de uma forma ou de outra, minha periclitante prática profissional – o jornalismo. Veículos de imprensa, diz Boudry, têm viés negativo: costumam publicar o que é ruim e negligenciar boas novidades.
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