Jerônimo Teixeira na Crusoé: A democracia brasileira é isso aí
Melhor seria se os candidatos fossem refrigerantes
Juro que não sabia quem era Zilu Camargo. Estava com Mumu, a cachorra da família, a caminho do veterinário, quando ela surgiu diante de nós, toda sorridente. Percorremos juntos, em silêncio, três quarteirões da região central de São Paulo.
Em uma coluna publicada em março (“Putin, BBB, Janja: a notícia irrelevante e a relevância que não é notícia“), fiz de conta que não sabia quem era a filha de Zilu. Foi só uma brincadeira, como deve ter ficado claro por algumas pistas no texto. Claro que eu já tinha ouvido falar de Wanessa Camargo antes de sua conturbada participação no BBB. Mas agora falo a verdade e falo sério: vi o nome e o rosto de Zilu Camargo pela primeira vez no cartaz colado ao vidro traseiro do carro à frente do meu na rua Glete. Não fosse por um detalhe curioso desse cartaz, ela seria para mim só mais uma entre as 984 pessoas que disputam as 55 cadeiras da Câmara de Vereadores de São Paulo nas eleições deste domingo.
O veterinário disse que Mumu está bem, considerando sua idade avançada. Com essa tranquilidade, pude me dedicar a assuntos menores logo que cheguei em casa. Fui ao Google pesquisar sobre Zilu. Encontrei-a ao lado de Datena e Marçal em uma lista de “famosos” que concorrem na eleição municipal paulistana. Zilu lançou-se candidata a vereadora pelo União Brasil, partido que apoia Ricardo Nunes, candidato incumbente à prefeitura. O partido da mãe de Wanessa não constava no cartaz que despertou minha atenção, mas o nome do atual prefeito estava lá.
Só fui atrás de informações sobre a candidata porque fiquei intrigado com seu slogan de campanha. Trata-se de uma expressão que os brasileiros já leram e ouviram antes: “sem medo de ser feliz”.
Vim a descobrir que esse é o título de uma canção que Zezé di Camargo (ex-marido de Zilu) e Luciano lançaram em 1995. Mas antes de se incorporar à música sertaneja, “sem medo de ser feliz” foi o slogan da primeira campanha presidencial de Lula, em 1989. As cinco palavras também apareciam no jingle do petista.
Em uma rápida passada de olhos pelo Instagram da candidata, nada encontrei que se encaixasse nas incansáveis, mas estreitas obsessões do bolsonarismo. Nenhuma palavra sobre ideologia de gênero, urna auditável, nióbio. Ainda assim, Zilu Camargo está sob a sombra de Jair Bolsonaro. Ricardo Nunes, seu candidato a prefeito, foi oficialmente ungido por Bolsonaro em São Paulo. Por isso a escolha de um slogan consagrado por Lula me pareceu estranha. Ou talvez deva dizer ousada?
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