Janones existe
Desprezar candidaturas insólitas não é prudente no Brasil. O eleitor está sempre em busca do outsider que, enfim, resolverá os seus problemas e transformará o país. De vez em quando, transformamos um candidato absurdo num presidente horroroso. Foi assim com Fernando Collor e com Jair Bolsonaro (que não eram outsiders, mas fingiram direitinho). O deputado […]
Desprezar candidaturas insólitas não é prudente no Brasil. O eleitor está sempre em busca do outsider que, enfim, resolverá os seus problemas e transformará o país. De vez em quando, transformamos um candidato absurdo num presidente horroroso. Foi assim com Fernando Collor e com Jair Bolsonaro (que não eram outsiders, mas fingiram direitinho).
O deputado federal André Janones (foto), do Avante de Minas Gerais, não é um fenômeno eleitoral da mesma magnitude do nosso antipresidente, em 2018. Mas as pesquisas sugerem que é um erro ignorar a sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
Na pesquisa FSB/BTG divulgada hoje, Janones envergonha os bacanas. Ele aparece com 1% de menções espontâneas, contra 0% de João Doria, Eduardo Leite e Simone Tebet, muito mais presentes no noticiário. Na pesquisa estimulada, ele tem os mesmos 2% de Doria e Leite (todos ficam à frente de Tebet).
O desdobramento dos números traz alguns detalhes surpreendentes sobre Janones. Ele tem baixa rejeição (2%) e alto índice de desconhecimento (61%), o que se traduz em espaço para crescer. Daqueles que o apoiam hoje, 58% dizem que não vão mudar de voto; só Lula (83%) e Bolsonaro (80%) inspiram fidelidade maior. Daqueles que recebem Auxílio Brasil, 8% o escolhem para a presidência, deixando-o num empate com Ciro Gomes (9%), e atrás apenas de Lula (59%) e de Bolsonaro (17%). Ele fala com os pobres.
Para 33% dos simpatizantes, o plano de governo de Janones é o principal motivo para elegê-lo. Há menos eleitores de Lula e Bolsonaro prestando atenção nas propostas de ambos (32% e 28%, respectivamente). Ah, mas nenhum dos dois formalizou ainda um plano de governo. Ora, Janones também não. Mas em suas redes sociais, onde tem mais de 15 milhões de seguidores, ele fala bastante sobre temas como fome, renda básica, inflação e aumento dos combustíveis. Tem gente prestando atenção nesse discurso.
Janones se apresenta como filho de uma dona de casa e de um cadeirante, que trabalhou como cobrador de ônibus para pagar a faculdade de Direito e depois advogou para pessoas pobres que aguardavam tratamento na fila do SUS.
Embora tenha sido um filiado do PT entre 2002 e 2012, ele diz que nunca militou de verdade pelo partido. Em 2016, tentou se eleger prefeito da cidade mineira de Ituiutaba pelo nanico PSC (em coligação com os petistas).
Mas seu batismo de fogo político deu-se na greve dos caminhoneiros de 2018, quando ele foi para as estradas gravar mensagens de apoio aos piquetes. Seu número de seguidores nas redes sociais cresceu vertiginosamente e ele logo se transformou em “criador e presidente” de um certo “Movimento Fora Temer”. Elegeu-se com facilidade para a Câmara dos Deputados, em 2018.
Pré-candidato, Janones se posiciona como uma alternativa a Lula e Bolsonaro, e diz que está louco para debater com eles. Dito de outra maneira, ele é um nome da Terceira Via, que parece ter ao menos 2% dos votos assegurados.
Seu partido, o Avante, é pequeno (8 deputados, nenhum senador), mas a presença sólida do deputado nas redes serve de compensação. Ele se descreve como um pragmático, mais preocupado em solucionar problemas do que com ideologias, e gasta seu tempo falando de coisas que interessam à gente comum, como o preço da gasolina e do diesel, a ponto de seus eleitores o enxergarem como um político de ideias. Aliás, enquanto durar a crise dos combustíveis, Janones terá um bom palanque, já que esse foi um dos temas que o tornaram conhecido, nos idos de 2018.
O resumo da história é que Janones existe. Pode não ter substância o bastante para liderar a Terceira Via, mas tem provavelmente o suficiente para influir no seu destino. Será um erro esnobá-lo agora e descobrir lá na frente que seus votos poderiam ter feito toda a diferença.
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