Hamas X hospital —o maior ataque à credibilidade da imprensa Hamas X hospital —o maior ataque à credibilidade da imprensa
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Hamas X hospital —o maior ataque à credibilidade da imprensa

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Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 18.10.2023 17:10 comentários
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Hamas X hospital —o maior ataque à credibilidade da imprensa

Ontem a imprensa ocidental sofreu o mais duro golpe contra sua própria credibilidade, se prestando a assessoria de imprensa de terrorista. A versão do Hamas sobre um ataque foi divulgada como verdade por diversos veículos muito importantes...

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Madeleine Lacsko
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Hamas X hospital —o maior ataque à credibilidade da imprensa
Arte: O Antagonista

Ontem a imprensa ocidental sofreu o mais duro golpe contra sua própria credibilidade, se prestando a assessoria de imprensa de terrorista. A versão do Hamas sobre um ataque foi divulgada como verdade por diversos veículos muito importantes.

Logo depois, Israel deu sua versão. Ela não virou imediatamente manchete: o pessoal entrou no modo “veja bem”.

Muitos veículos que são referência, como o New York Times, deram capa dizendo que Israel havia bombardeado um hospital e matado centenas de pessoas. No final, a explosão não foi nem no hospital, foi num estacionamento.

Há uma série de fatores que levaram à lambança de ontem. Uma explicação simples e popular é a ideologia nas redações. Não fosse uma simplificação grosseira e pueril, ficaria fácil resolver. Só balancear a turma de esquerda com a de direita. Nem isso resolveria, porque o problema é mais complexo.

As redações ainda não aprenderam a conviver com a velocidade das redes sociais e a perda do poder do furo de reportagem. Sempre as primeiras informações em casos como de guerras, episódios de violência, explosões e catástrofes naturais eram da imprensa.

O jornalismo detinha o status e o poder de testemunhar a história se fazendo e contar aos demais. Nesses casos específicos, isso acabou. Raramente um jornalista será o primeiro a divulgar um vídeo de uma explosão durante uma guerra.

Na quase totalidade das vezes, as pessoas filmarão com seus telefones e postarão nas redes. Ao jornalismo cabe agora verificar quais dessas imagens são verdadeiras e quais fazem parte da guerra de desinformação e contrainformação, uma parte do ofício militar.

Mas as redações entram num pensamento de não ficar para trás. Se todo mundo está dando a notícia, é necessário dar a notícia também. Ou parece que aquele veículo não é tão rápido, tão eficiente. No final, acaba sendo mais fácil dar a notícia errada.

A parte ideológica é vista pelos simplistas como uma simples questão de ter mais gente de esquerda nas redações. Isso é verdade e tem impactos. No caso da guerra, no entanto, há uma camada de ideologia mais sutil e mais perigosa.

O politicamente correto e o woke condicionaram as pessoas a dividir o mundo entre oprimidos e opressores. Essas categorias são dissociadas da realidade. Alguém que oprime os outros pode virar oprimido e uma pessoa efetivamente oprimida pode ser vista como opressora. Depende da categoria em que é colocada.

Judeus, por exemplo, são opressores. Estão associados ao Estado de Israel, que é rico e forte. São apoiados pelo imperialismo norte-americano.

Já os palestinos são oprimidos. Até o pessoal do Hamas, que é terrorista e quer poder matar infiéis numa jihad, é oprimido também. Não considerar que eles sejam oprimidos é a islamofobia típica do imperialismo.

As notícias têm sido feitas com esse viés, que é mais sutil e recente que o viés puramente político. Além de tudo, combater o viés político é mais fácil. Combater o viés criado pela patrulha do identitarismo tem um preço pessoal que pode culminar no cancelamento, na morte social e perseguição profissional.

Até o momento, a imprensa tem agido como se nada tivesse ocorrido. Mudou as manchetes e seguiu a vida. O público não vai esquecer e a inação tende a piorar a sensação de desconfiança.

Era o momento de fazer o famoso “erramos”, comum tempos atrás. Também seria muito positivo criar novas regras sobre a forma como essa cobertura vai ser conduzida. Uma espécie de governança da apuração jornalística exposta ao público, um passo a passo do que vai ser diferente agora, para evitar uma repetição do espetáculo dantesco de ontem.

Muita gente acha que um problema some se a gente resolve ignorar. É um erro absurdo. O jornalismo precisa tomar as rédeas do próprio destino. Caso contrário, o cavalo continuará trotando rumo ao precipício.

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