Gilberto Kassab com um pé em cada canoa
Há dois dias, escrevi um artigo sobre o jogo político de Gilberto Kassab (foto). Eu disse que "o cacique do PSD, é o mais pragmático dos políticos brasileiros em atividade -- e não vai aqui nenhuma ironia com o adjetivo. No ano passado, ele vendia aos seus interlocutores a ideia de que o mineiro Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, tinha chance de ser presidente da República. Eu sempre achei que, na verdade, Rodrigo Pacheco era apenas um bom 'cavalo de parada' para Gilberto Kassab e que a candidatura do político mineiro se prestava mais a atrair quadros para o PSD e, assim, a ajudar a fazer uma grande bancada parlamentar, bem como a eleger governadores. Aliás, o cacique pessedista quer atrair o tucano Eduardo Leite para as suas hostes"...
Há dois dias, escrevi um artigo sobre o jogo político de Gilberto Kassab (foto). Eu disse que “o cacique do PSD, é o mais pragmático dos políticos brasileiros em atividade — e não vai aqui nenhuma ironia com o adjetivo. No ano passado, ele vendia aos seus interlocutores a ideia de que o mineiro Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, tinha chance de ser presidente da República. Eu sempre achei que, na verdade, Rodrigo Pacheco era apenas um bom ‘cavalo de parada’ para Gilberto Kassab e que a candidatura do político mineiro se prestava mais a atrair quadros para o PSD e, assim, a ajudar a fazer uma grande bancada parlamentar, bem como a eleger governadores. Aliás, o cacique pessedista quer atrair o tucano Eduardo Leite para as suas hostes”.
Gilberto Kassab mexe-se, veja só, para que o governador gaúcho se filie ao PSD para ser candidato a presidente da República. Mas então o cacique pessedista não quer fazer aliança com Lula já no primeiro turno? Aí é que está: ao que tudo indica, ele ficará com um pé em cada canoa até o último momento. O que o levou a rever a sua estratégia? O horizonte que se vislumbra mais claramente agora. Nesse horizonte, a desistência de Jair Bolsonaro de se candidatar à reeleição começa a delinear-se como possibilidade real. Os números das pesquisas são extremamente ruins para o atual presidente, não importa de que lado se olhe. Sem mandato para blindá-lo, Jair Bolsonaro corre o risco de ser preso, enrolado que está em processos. Não poderia se dar ao risco de encarar uma eleição já perdida. Precisaria encontrar outra saída.
Se Jair Bolsonaro sair da disputa, abre-se mais espaço para um candidato que não seja nem Lula nem Sergio Moro — ou qualquer outro que já se apresentou, sem convencer o eleitorado. Alguém que possa ser servido ao indistinto público como relativa novidade nacional, de centro e que não desperte desconfianças no sistema político e no mercado. É nesse contexto que entra Eduardo Leite. Mesmo depois de perder as prévias do PSDB para João Doria, ele continua a ambicionar o Palácio do Planalto em 2023. Eduardo Leite combina várias qualidades: como governador do Rio Grande do Sul, tem experiência no Executivo. É jovem. É bom de gogó. O fato de ser gay lhe confere um ar de modernidade. Um candidato muito mais pronto do que Rodrigo Pacheco — e bem próximo de Gilberto Kassab, cujo partido o apoia no Rio Grande do Sul.
O cacique pessedista está com um pé em cada canoa, portanto, de olho no desempenho de Lula (os ouvidos voltados para as promessas de amor eterno do petista) e nos movimentos de Jair Bolsonaro nos bastidores. O fato de Sergio Moro estar patinando nas pesquisas, enfrentando enormes dificuldades no Podemos e obstáculos para fazer aliança com a União Brasil também deve animar Gilberto Kassab a tentar uma candidatura própria com Eduardo Leite, mesmo que Jair Bolsonaro continue no páreo. Em qualquer cenário, ele poderia cooptar a União Brasil, vendendo a ideia de que o governador gaúcho, além de ser viável como candidato, é um nome que promoveria a paz entre Luciano Bivar e ACM Neto, que aparentemente estão às turras em torno de Sergio Moro. E a candidatura de Eduardo Leite, ainda que alcance uma altitude apenas média, cacifaria melhor o PSD num eventual governo Lula. Como publicou Diego Amorim, o cacique pessedista só pretende mostrar o seu jogo, ou parte dele, a partir de abril, quando se escancara a janela partidária e os políticos poderão trocar de legenda.
O jogo segue.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)