Ernesto e Kicis como entrada; Bolsonaro como prato principal
O chanceler Ernesto Araújo insinuou ontem, no Twitter, que Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relação Exteriores do Senado, foi cooptada pelo lobby da Huawei, para trabalhar em prol da contratação da empresa chinesa para a implantação da tecnologia 5G no Brasil. Ernesto Araújo não citou o nome da empresa, mas está implícito. Isso explicaria o motivo de a senadora e colegas quererem derrubá-lo. Nada a ver, portanto, com a política externa inepta que macaqueia a de Donald Trump e, assim, criou atritos desnecessários com a China...
O chanceler Ernesto Araújo insinuou ontem, no Twitter, que Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relação Exteriores do Senado, foi cooptada pelo lobby da Huawei, para trabalhar em prol da contratação da empresa chinesa para a implantação da tecnologia 5G no Brasil. Ernesto Araújo não citou o nome da empresa, mas está implícito. Isso explicaria o motivo de a senadora e colegas quererem derrubá-lo. Nada a ver, portanto, com a política externa inepta que macaqueia a de Donald Trump e, assim, criou atritos desnecessários com a China, a nossa principal parceira comercial e produtora de vacinas e insumos para vacinas contra a Covid. Ernesto Araújo fez a insinuação contra a Kátia Abreu e, na sequência, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho do presidente que queria ser embaixador nos Estados Unidos, comentou no Instagram: “Ela bateu na porta errada”. Eduardo é uma porta.
Diante da insinuação grave, Kátia Abreu emitiu uma nota, chamando o chanceler de “marginal”. Disse a senadora: “Se um Chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira. Temos de livrar a diplomacia do Brasil do seu desvio marginal.”
Como se não bastasse, a deputada federal Bia Kicis resolveu fazer uma ponta no domingão do Ernestão. Igualmente no Twitter, ela fez uma homenagem ao soldado da Polícia Militar da Bahia que, num surto psicótico, com o rosto pintado de verde e amarelo, começou a disparar tiros para o ar, com falas incongruentes, ao lado do Farol da Barra, em Salvador. Com a área isolada, ele atirou contra policiais do Bope que tentavam negociar a sua rendição. Acabou morto. Na versão de Bia Kicis, o soldado “foi abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia arou. Chega de cumprir ordem ilegal!”
Bia Kicis apagou o tweet, mas é incancelável o fato de que a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara incitou policiais militares à insurreição não só contra o governador Rui Costa, mas todos os governadores que adotaram medidas restritivas no combate à pandemia. O indefectível Eduardo Bolsonaro apoiou Bia Kicis na ilegalidade. Escreveu e não apagou no Twitter: “Aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar. Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário.”
Ernesto Araújo e Bia Kicis são geralmente definidos como pertencentes à ala ideológica do governo de Jair Bolsonaro, assim como o assessor especial do presidente, o ínclito Filipe Martins, que tem o hábito de alisar a lapela do paletó com o gesto adotado pelos supremacistas brancos. Não há ala ideológica nenhuma no governo Bolsonaro. O que existe é a ala dos aloprados, e o presidente dela faz parte integralmente, assim como os seus filhos. Na verdade, o presidente a chefia e, fosse apenas por ele, não haveria gente equilibrada no seu governo. É o que vem demonstrando desde o início do seu mandato.
O que os parlamentares têm de fazer imediatamente é, além de derrubar Ernesto Araújo, como já parece consumado, tirar Bia Kicis da presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e desalojar Filipe Martins do Palácio do Planalto. Eles devem servir de entrada para o prato principal: o impeachment de Jair Bolsonaro. Chega de alopragem. Alopragem mata. Com Mourão na presidência, poderá haver a imprescindível correção de rumos. Ou melhor, existirá um rumo que não essa falta de racionalidade e pudor que está levando o Brasil para o abismo.
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