Ei, Lula, não há milícia do bem
No comecinho do desgoverno de Jair Bolsonaro o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, manifestou seu desprezo pela verdade e pela lisura ao declarar publicamente que as milícias que reinam na periferia do Rio...
No comecinho do desgoverno de Jair Bolsonaro o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, manifestou seu desprezo pela verdade e pela lisura ao declarar publicamente que as milícias que reinam na periferia do Rio nasceram para fazer o bem às comunidades em que atuam. Mas tiveram essa vocação desvirtuada ao longo do tempo. Após ter agredido o decoro e a lógica da farda, das dragonas e do cargo público, o acompanhante do então presidente em helicóptero que sobrevoou a Esplanada dos Ministérios, ocupada por pretendentes ao golpe militar com o capitão no topo hierárquico de uma republiqueta embananada, distorceu a História com mais uma mentira deslavada. Pode-se dizer que sua ignorância não fez muito mal às instituições, pois não teve, então, consequência de grande relevância. Afinal, o terrorista fardado e seus filhos numerados já tinham dado muitas provas de apreço ao comandante em chefe da maior milícia da ex-capital federal e principal executivo do maior empreendimento criminoso privado do país, o Escritório do Crime: o ex-capitão PM do Rio Adriano da Nóbrega.
Agora, o maior adversário de Jair e vencedor da última eleição presidencial, Lula da Silva, não se deu sequer ao trabalho de admitir o óbvio para a mais uma vez desprezada até os miolos da área do turismo, ao calar-se sobre a nomeação da deputada Daniela Cordeiro, reeleita para a Câmara em outubro passado com 200 mil votos pela União Brasil, para chefiar o ministério. Ela tem notórios vínculos com Marcinho Bombeiro, presidente da Câmara Municipal de Belfort Roxo até ser preso acusado de chefiar uma milícia. Na repercussão de sua ascensão ao gabinete de 37 ministérios do presidente petista vieram à tona vínculos com outro chefão miliciano, Juracy Prudêncio, ex-PM conhecido pelo apelido de Jura. Desde que tal relação promíscua foi divulgada pela Folha de S.Paulo, a esquerda, que se diz defensora da democracia e da honestidade, abandonou a prudência. Da mesma forma como o líder da milícia da região de Belfort Roxo, município cujo prefeito é Wagner dos Santos, conhecido como Waguinho, marido da ministra e tido como importante cabo eleitoral da candidatura petista à Presidência no território sob seu domínio.
Dificilmente, o tirano bolchevique Josef Stalin, que apagou das fotos da Revolução Comunista da Rússia em 1917, flagantes que comprovavam a liderança de seu inimigo Lev Trotski na revolução soviética de 1917 . E é pouco provável que seja mais do que esperteza a covarde atitude que ela tomou ao extirpar de seus perfis nas redes sociais imagens e sons de suas ligações perigosíssimas com o chefão do tal Bonde de Jura, apelido também usado pela mulher deste e parceira dela na campanha eleitoral, a Giane de Jura. As autoridades policiais registram nos processos contra o tal Bonde, que não é da Light, mas do Jura e sua cruel milícia, pelo menos uma centena de vítimas fatais. Valham-nos Deus e NossaSenhora!
Lula se resguarda de comentar assuntos desagradáveis, mas sangue coagulado cheira muitíssimo mal, principalmente quando se se levar em conta a prática de tais assassínios ao longo dos últimos quatro anos. Habituadas a apagar rastros das próprias práticas fora da lei comum, a militância e a direção do Partido dos Trabalhadores recorrem a desculpas esfarrapadas. E atribuem as acusações a brigas internas do União Brasil, legenda a cuja cota se entregou a parcela na Frente Ampla que restaurou a democracia e a integridade do Estado, jogado às traças e troças da direita estúpida. Como ficou revelado no estado em que o atual presidente recebeu as chaves do Palácio da Alvorada. Seria ridículo, se não fosse sórdido. Ao criarem mais ministérios do que o necessário para gerir um País jogado na miséria pelo antecessor debiloide e entregarem um setor capaz de financiar honesta e organizadamente a reconstrução da herança de lixo e desmazelo da direita vândala e mendaz, Lula e seus sequazes não se mostram dignos da missão eu receberam.
A afirmação do presidente de que não perdoará falhas de sua equipe ministerial com gordura de lutador de sumô cai no mais absurdo ridículo da farsa, estilo que não cabe se repetir em democracias de verdade, Ao fingir que o episódio grotesco da ministra que escolheu para gerir um setor da alta importância para a restauração de um país erodido pela canalhice até agora reinante, o presidente pisa na bola. E ,assim, põe em dúvida, enfraquecendo o apoio que recebeu da cidadania nas urnas, argumentos que ele e seus fiéis repetem, sem apoio em fatos. Os de que ele foi injustiçado por um grupo de procuradores e um juiz. Omitindo desembargadores e ministros que confirmaram as sentenças que o condenaram por crimes contra o erário e a ordem pública.
Ninguém exige do presidente, escolhido dentro da moldura institucional vigente, que seja injusto com os auxiliares que escolheu para uma gestão que possa consagrá-lo como o mais popular dos governantes do primeiro escalão da História. Mas isso não o exime de cumprir suas obrigações no cumprimento da ordem constitucional, que jurou obedecer na posse. Promessas e ameaças de nada valem se não vierem acompanhadas de correções feitas com fatos, e não somente frases. Tudo o que se sabe sobre a ministra clama que ela seja dispensada imediatamente da equipe ministerial. Não agora. Já. Sem rodeios nem salamaleques de palanque, gabinete e salão.
*Jornalista, poeta e escritor
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