Efeito bumerangue
A agência russa RIA Novosti, a mesma que ontem à noite estampou Jair Bolsonaro em sua capa, hoje dedicou uma longa reportagem às sanções econômicas impostas pelo Ocidente à Rússia. Apesar do tom da matéria, que chama de roubo o bloqueio de bens de Vladimir Putin, há vários dados interessantes que demonstram o real alcance das punições e prováveis consequências...
A agência russa RIA Novosti, a mesma que ontem à noite estampou Jair Bolsonaro em sua capa, hoje dedicou uma longa reportagem às sanções econômicas impostas pelo Ocidente à Rússia. Apesar do tom da matéria, que chama de roubo o bloqueio de bens de Vladimir Putin, há vários dados interessantes que demonstram o real alcance das punições e prováveis consequências.
Sim, o Kremlin está preocupado. Mas quem não está? Na ONU, a China alertou que “não há nada a ganhar com o início de uma nova Guerra Fria”.
Certamente, o embaixador chinês não falava apenas em detente nuclear, mas econômica. Numa economia globalizada e interdependente, uma sanção dificilmente tem efeito unilateral.
Uma das medidas consideradas mais duras pelos russos foi tomada pela Comissão Europeia, que proibiu transações da UE com o Banco do Rússia, congelou reservas internacionais e está pronta para desconectar várias entidades financeiras russas do SWIFT. Em curto prazo, é possível prever um colapso do sistema financeiro russo ou pelo menos a redução de seu tamanho.
Vinte por centro das transferências dentro do país são hoje viabilizadas pelo Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS), que também é adotado por ex-repúblicas soviéticas e algumas instituições na Alemanha e na Suíça. O SPFS poderia substituir parte do SWIFT, mas só parte.
A Rússia também poderia redirecionar transações para o CIPS chinês (Sistema de Pagamentos Internacionais da China), mas seria uma ação de efeito limitado e prazo incerto.
A Rússia não tem tempo para gastar.
Suas reservas totalizam 643 bilhões de dólares, sendo 311 bilhões de dólares em títulos de emissores estrangeiros, 152 bilhões em dinheiro e depósitos no exterior (30 bilhões são mantidos em reservas no FMI e direitos especiais de saque) e apenas 132 bilhões em ouro, armazenados no país.
O Banco Central russo pode usar esse ouro para comprar moeda estrangeira de seus aliados da União Econômica da Eurásia (EAEU), da China ou da Índia — mas e depois? Recorrer a Pequim para retaliar os EUA e UE, vendendo títulos do Tesouro americano e também europeus, inundando o mercado e derrubando aquelas economias? É uma aposta alta, assim como o custo da desestabilização do sistema financeiro global.
Para Moscou, diz a agência, europeus e americanos também não conseguirão levar tais sanções adiante por muito tempo, pois não teriam como pagar pelo gás, pelo petróleo e outros bens russos.
A Rússia fornece 10% do petróleo mundial, supre a Europa com 170 bilhões de metros cúbicos de gás e atende a um terço das necessidades dos EUA de paládio — fundamental para a indústria automotiva e militar. Também é o principal fornecedor mundial de trigo. Na prática, um arsenal de guerra.
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