É um erro subestimar Gusttavo Lima: o Brasil cansou dos políticos tradicionais
Esses fenômenos são reflexos de um país que não suporta mais o status quo.
O Brasil vive um momento peculiar e a declaração de candidatura de Gusttavo Lima à presidência não é apenas uma anedota política. Estamos diante de um retrato fiel do cansaço de um povo que não se sente mais representado. É fácil zombar da ideia mas, ao fazer isso, muitos ignoram o que ela simboliza: um rompimento com a política tradicional, que deixou de dialogar com a realidade do brasileiro comum.
Os políticos tradicionais transformaram o ato de governar em um espetáculo incômodo. O cidadão médio não se vê em quem está no poder. A maioria vai às urnas com a sensação de escolher entre o ruim e o pior, sem entusiasmo e com raiva. Não é à toa que, no Brasil, o voto deixou de ser uma expressão de esperança para se tornar um fardo. Afinal, o que as forças políticas tradicionais entregam além de escândalos, fisiologismo e pactos que mantêm todos no poder?
O fenômeno Gusttavo Lima não surge do nada. Ele reflete um cenário onde as instituições políticas e seus representantes se tornaram obsoletos. Por mais de 30 anos, a política brasileira é dominada por lideranças oriundas do período da ditadura, sejam elas a favor ou contra. Não se trata de fazer julgamentos morais sobre quem estava de um lado ou de outro. O ponto é que esses mesmos nomes ou suas versões recicladas continuam a ocupar o espaço público, discutindo temas que não respondem às necessidades de hoje.
Enquanto isso, o brasileiro está preocupado com problemas reais e imediatos: a economia que não avança, os preços que não param de subir, a sensação de que a liberdade de expressão está sendo cada vez mais patrulhada. Mas nossos políticos continuam presos ao retrovisor, debatendo assuntos que já deveriam ter sido superados há décadas. Para muitos, eles são como museus ambulantes, cheios de velhas narrativas, mas incapazes de oferecer soluções para o presente.
Essa desconexão é o que abre espaço para outsiders como Gusttavo Lima, Danilo Gentili ou Pablo Marçal. A política tradicional está tão desgastada, tão cheia de amarras e compromissos que não consegue mais dialogar com a população. Isso cria um vácuo que é rapidamente preenchido por figuras de fora, que chegam prometendo algo novo, ainda que esse “novo” seja, muitas vezes, uma incógnita.
É claro que nem todos esses outsiders serão bons nomes. Muitos serão inexperientes, outros serão enrolados, e alguns podem até ser tão ruins quanto os políticos tradicionais. Mas aqui está o ponto central: mesmo o mais enrolado dos candidatos de fora ainda parece menos nocivo que as figuras históricas da política brasileira, que já transformaram a corrupção e a falta de compromisso em arte.
Depois de décadas de promessas não cumpridas, o cidadão comum olha para os políticos de carreira e não vê mais nada além de decepção.
O caso de Gusttavo Lima é um exemplo perfeito dessa insatisfação. Ele pode até ser alvo de piadas, mas quem ri está ignorando o fato de que sua candidatura não seria um capricho pessoal, mas uma resposta ao anseio de uma população cansada. A política brasileira virou um clube fechado, onde as mesmas figuras se revezam no poder, brigando na frente das câmeras e fazendo acordos nos bastidores. Para o eleitor, isso não é mais aceitável.
A política tradicional prometeu muito com a abertura democrática, mas entregou pouco. O Brasil saiu da ditadura com a esperança de construir algo novo, mas o que vimos foram os mesmos rostos, os mesmos vícios e os mesmos pactos. Hoje, o cidadão médio sente que, apesar de votar a cada quatro anos, pouco ou nada muda.
Subestimar Gusttavo Lima, Danilo Gentili ou qualquer outro nome de fora da política é não entender o Brasil de hoje. Esses fenômenos são reflexos de um país que não suporta mais o status quo. E quem insiste em ignorar ou ridicularizar essas candidaturas pode se surpreender nas urnas.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
Marcelo José Dias Baratta
07.01.2025 00:18Parabêns, boa sacada.