É tudo muito nojento
Davi Alcolumbre (à direita na foto) está pagando caro por se recusar a marcar a sabatina de André Mendonça, indicado de Jair Bolsonaro (à esquerda na foto) para a vaga aberta no STF. Como dissemos, foi parar na capa da Veja, que fez o seu trabalho jornalístico ao publicar a história de que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado embolsou 2 milhões de reais por meio de um esquema de rachadinha que funcionava no seu gabinete desde 2016. Em resposta, o senador divulgou uma nota, publicada por este site, na qual diz que "é vítima de uma campanha difamatória"...
Davi Alcolumbre (à direita na foto) está pagando caro por se recusar a marcar a sabatina de André Mendonça, indicado de Jair Bolsonaro (à esquerda na foto) para a vaga aberta no STF. Como dissemos, foi parar na capa da Veja, que fez o seu trabalho jornalístico ao publicar a história de que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado embolsou 2 milhões de reais por meio de um esquema de rachadinha que funcionava no seu gabinete desde 2016. Em resposta, o senador divulgou uma nota, publicada por este site, na qual diz que “é vítima de uma campanha difamatória“ e que “é nítido e evidente que se trata de uma orquestração por uma questão política e institucional da CCJ e do Senado Federal”. A questão política e institucional é a sabotagem à indicação de André Mendonça, obviamente. A ironia é que os bolsonaristas ataquem Davi Alcolumbre com a divulgação da rachadinha do senador.
Não é esse o ponto que interessa aqui. O que gostaria de registrar é o modo nojento como os políticos tratam os cidadãos pobres do país. Some-se à exploração bilionária no atacado a exploração do CPF no varejo. A rachadinha no gabinete de Davi Alcolumbre repete o mesmo método de tantas outras ladroeiras perpetradas por essa fauna de honestos que infesta o Congresso e vizinhanças: aproveitar-se diretamente do desespero de gente sem qualquer perspectiva. No caso de Alcolumbre, a ordem era escolher mulheres desvalidas e desempregadas — de preferência com muitos filhos, a fim de rapar também o auxílio maternidade –, para que fossem contratadas como assessoras fantasmas e repassassem praticamente a integralidade de salários entre 4 mil e 14 mil reais ao senador. Em troca, elas ficavam com o equivalente a um salário mínimo ou um salário mínimo e meio.
Com exceção de uma das seis mulheres que aparecem na reportagem, todas entregavam a senha da conta e o cartão bancário a um pau mandado de Davi Alcolumbre. É de uma sordidez absoluta. Alguns leitores poderão dizer que elas poderiam ter-se recusado a entrar no esquema. Está certo. Mas sugiro refrear o ímpeto dos julgamentos categóricos, para que possamos entender nitidamente a exploração do desamparo cometida por aqueles que exploram o povo que deveriam representar e cujos interesses precisariam defender.
O círculo vicioso é grande e concêntrico: vai do direcionamento espúrio e roubalheira em emendas parlamentares, como mostra a Crusoé desta semana, na reportagem O dono do governo, a essas rachadinhas da família Bolsonaro, de Davi Alcolumbre e outras hienas instaladas nos diferentes níveis de poder. Hienas que mantêm milhões de cidadãos brasileiros em estado de penúria, roubando-lhes o futuro, para depois se alimentarem da última gota de sangue das suas carcaças.
Davi Alcolumbre está pagando caro por sabotar a indicação de Jair Bolsonaro ao Supremo — bem feito, é vítima coisa nenhuma nessa guerra de gângsters –, mas nada se compara ao preço que a nossa população ignara vem pagando há décadas. A cada eleição, os políticos tomam-lhe a senha e o cartão e, como pagamento, dão-lhe esmolas. Tudo é muito nojento.
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