As eleições de São Paulo vêm chamando atenção de todo o país, e não por propostas ou debates profundos sobre o futuro da cidade. O que está em alta é o espetáculo, a violência e a malandragem. O eleitorado, muitas vezes, não busca soluções políticas, mas um show. E é isso que os políticos estão entregando: a baixaria que o público consome avidamente.
O Brasil, com seu histórico de crises educacionais, prova repetidamente, em avaliações como o PISA, que a maioria da população não tem domínio adequado da leitura e escrita. Isso se reflete diretamente na qualidade do debate político. A verdade é que não é de ideias que as pessoas gostam. O sucesso dos debates eleitorais mais recentes está em outro lugar: eles oferecem o que o público quer, e isso não é política, é catarse.
Os ataques verbais, as acusações sem filtro e até a violência física entre candidatos e seus assessores têm sido acompanhados com fervor, não só pelos eleitores de São Paulo, mas por brasileiros de todas as partes do país. A explicação é simples: o que atrai não é a política em si, mas o espetáculo. O circo político tomou conta. Não à toa, há uma frase famosa que atravessa séculos: “pão e circo” (panem et circenses), do tempo do Império Romano. Mas a situação atual parece ter deixado o pão de lado. O circo é suficiente para entreter, distrair, manipular e alimentar o eleitorado.
Desde o menslão
Desde 2007, com o escândalo do mensalão, o brasileiro começou a se interessar mais por política. Mas foi em 2013, com as manifestações de junho e o crescimento das redes sociais, que a política se tornou um verdadeiro hit. Muitos eleitores estão convencidos de que, ao assistir esse espetáculo, estão entendendo de política, quando na verdade estão sendo manipulados por um sistema que só lhes dá o que querem: mais circo.
Política requer duas coisas essenciais que a maioria dos brasileiros simplesmente não possui. Primeiro, é preciso ter domínio das próprias emoções. O brasileiro, contudo, está cada vez mais violento, incapaz de dominar suas reações. Basta ver o comportamento dos candidatos que, ao partirem para o confronto físico, sobem nas pesquisas. E sempre há uma desculpa para justificar a violência. Não importa se é uma cadeirada ou um soco: o brasileiro atravessa a rua para defender o agressor.
A segunda coisa essencial para entender política é leitura. Sem leitura, não há como compreender as nuances e os contextos necessários para se formar uma opinião política embasada. Mas, com o dia a dia tomado pela luta para sobreviver e trabalhar, quem tem tempo para ler? E pior: quem tem capacidade de ler e absorver conteúdos mais complexos sobre política e história?
O brasileiro
A leitura é o caminho para o entendimento, e não apenas a leitura do que reforça sua própria visão de mundo, mas também do que desafia suas ideias e mostra a perspectiva do “outro lado”. O brasileiro, entretanto, não lê. O pouco tempo que tem é gasto no TikTok, no YouTube, consumindo conteúdo rápido e raso. Não há como formar uma consciência política sólida com esse tipo de “informação”. E os políticos sabem disso.
Ao longo dos anos, eles adaptaram suas estratégias ao que o eleitor realmente quer: não propostas, mas violência e espetáculo. É como um círculo vicioso. Se a maioria da população quisesse ouvir propostas, os candidatos estariam apresentando planos sólidos. Mas o que vemos é o oposto. Os políticos se tornaram manipuladores habilidosos, dando ao eleitor exatamente o que ele deseja: um show de baixarias, acusações e, claro, violência.
E antes que você diga “Ah, eu não gosto de baixaria”, pergunte-se: por que, então, esse comportamento rende votos? A realidade é que a maioria se deixa levar pela emoção. Se você está muito emocionado com a política, é porque já foi manipulado. Todos já fomos, em algum momento, feitos de otários pelo sistema. Eu aprendi uma lição que levo à risca quando me sinto feita de otária: se você está no fundo do poço, a primeira atitude é parar de cavar. O eleitor brasileiro precisa largar a pá.