É preciso matar o Sergio Moro do futuro É preciso matar o Sergio Moro do futuro
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É preciso matar o Sergio Moro do futuro

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Mario Sabino
7 minutos de leitura 17.01.2022 11:12 comentários
Opinião

É preciso matar o Sergio Moro do futuro

Não canso de me espantar -- e de expressar o meu espanto -- com a verdadeira caçada que políticos, jornalistas, advogados e juízes promovem contra Sergio Moro (foto). O sujeito prendeu corruptos graudíssimos e mandou a escumalha que roubou bilhões de reais da Petrobras devolver o dinheiro à empresa. Missão cumprida, virou alvo de hackers vagabundos (história mal explicada) que roubaram mensagens do celular do então procurador Deltan Dallagnol e viram-se tratados como heróis nacionais pela imprensa petista ou simplesmente oportunista. Na sequência, foi avacalhado por ministros de tribunais superiores que atuam politicamente e politicamente o consideraram suspeito. Por fim, saiu do governo atirando contra a interferência na Polícia Federal. Apesar de tudo isso, ele vem sendo tratado como o pior criminoso do Brasil...

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Mario Sabino
7 minutos de leitura 17.01.2022 11:12 comentários 0
É preciso matar o Sergio Moro do futuro
Foto: Saulo Rolim / Sérgio Lima / Danilo Martins - Podemos

Não canso de me espantar — e de expressar o meu espanto — com a verdadeira caçada que políticos, jornalistas, advogados e juízes promovem contra Sergio Moro (foto). O sujeito prendeu corruptos graudíssimos e mandou a escumalha que roubou bilhões de reais da Petrobras devolver o dinheiro à empresa. Missão cumprida, virou alvo de hackers vagabundos (história mal explicada) que roubaram mensagens do celular do então procurador Deltan Dallagnol e viram-se tratados como heróis nacionais pela imprensa petista ou simplesmente oportunista. Na sequência, foi avacalhado por ministros de tribunais superiores que atuam politicamente e politicamente o consideraram suspeito. Por fim, saiu do governo atirando contra a interferência na Polícia Federal. Apesar de tudo isso, ele vem sendo tratado como o pior criminoso do Brasil.

Escrevi “apesar de tudo isso”, mas é claro que não sou ingênuo. Sei que Sergio Moro sofre perseguição justamente por ter-se comportado do modo oposto ao dos que mantêm o sistemão em funcionamento, para a desgraça de muitos e o benefício de poucos — e que o seu grande pecado foi, com esse comportamento, ter colocado no xadrez empresários e chefões políticos poderosos, como Marcelo Odebrecht e Lula. Mas, ainda assim, espanto-me com o despudor da caçada do agora pré-candidato à presidência da República.

Na imprensa, uma penca de colunistas que desonestamente não se declaram petistas ataca Sergio Moro utilizando argumentos fajutos sobre sua suspeição como juiz, como se as sentenças proferidas por ele não tivessem sido chanceladas por outras instâncias e algumas até com agravamento de pena. Fustigam também a sua falta de “profissionalismo” na política, como se o fato de passar por media training, sessões de fonoaudiologia e cercar-se de notáveis interessados em mudar o Brasil fosse sinal de amadorismo. Um pré-candidato que precisa de “coaching”, veja só que absurdo. De que “profissionais” essa gente sente falta? De Lula, José Dirceu, Renan Calheiros, Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira, Ciro Gomes, Aécio Neves, Geraldo Alckmin? Do que estamos falando aqui? De alguém forjado num “passado de lutas”? Bem, se há alguém que lutou de verdade, esse alguém foi Sergio Moro, não? Ou a Lava Jato não foi uma luta contra tudo e contra todos? Quanto à capacidade intelectual, o único presidente da República que chegou preparado para ocupar o cargo — o único — na história da Nova República (e, quiçá, da República) foi Fernando Henrique Cardoso. O que, infelizmente, não o impediu de sucumbir à vaidade, fazendo passar a emenda da reeleição, e de dar corda à corrupção de aliados.

Sergio Moro e sua mulher, Rosangela, gravaram uma mensagem de Natal. Eles não formam propriamente um casal Obama, mas foram tratados por essa mesma imprensa — e nas redes sociais — como se destoassem para baixo da média brasileira em termos de comunicabilidade, estética e crenças. Além de criticarem a voz do “marreco”, debocharam da voz da “pata” na mensagem. Como se Lula fosse um Pavarotti e Jair Bolsonaro, um José Carreras. Muitos dos que se deliciaram com o que seria a caipirice do casal não aprenderam nem mesmo a comer direito com garfo e faca (meninos, eu vi). Um dos maiores malas sem alça que conheci classificou Moro de maior mala sem alça de 2022. Seria divertido, se não fosse assustador o ponto a que chegamos.

O braço jurídico do PT, mais conhecido como o clube do charuto e do vinho Prerrogativas, nunca esteve tão ativo nas redes sociais — e nos bastidores. Advogados de corruptos pescados pela Lava Jato repisam que Sergio Moro e os procuradores agiram politicamente quando estavam à frente da operação — e o lançamento da pré-candidatura do ex-juiz só confirmaria que ele agiu fora da lei. Para quem olha de fora, parece ser o contrário: se resolveu entrar na política, isso mostra que não fez nada de errado quando vestia toga e, por isso, não teme ter esse telhado de vidro. Acuado por Deltan Dallagnol, um dos integrantes do clube foi obrigado a concordar que a Lava Jato recuperou 15 bilhões de reais de dinheiro de corrupção. O causídico, no entanto, continua a disparar contra Sergio Moro no Twitter (afinal de contas, pode se candidatar a deputado pelo PT), fazendo gracinhas sem usar vírgula antes de vocativo, como se o seu sobrenome quatrocentão fosse suficiente para abolir a gramática. Juntamente com ministros de tribunais superiores, o braço jurídico do partido atua para tentar criar embaraços ao pré-candidato Sergio Moro e quem ousa apoiar o moço. O Tribunal de Contas da União, por exemplo, agora quer saber quanto o ex-juiz ganhou para sair da empresa de consultoria americana que o empregou nos Estados Unidos, depois de ele sair do governo. O que isso tem a ver com dinheiro da União? Nada, absolutamente nada, mas a alopragem vai ao ponto de ligar o salário de Sergio Moro a um suposto conflito de interesses na condenação da Odebrecht e executivos da empreiteira. Os malandros da Brasília querem fazer crer que Sergio Moro quebrou a Odebrecht, cliente da empresa na qual ele viria a trabalhar, para conseguir o emprego. A versão se choca com a outra — a de que ele condenou Lula para eleger Jair Bolsonaro e virar ministro da Justiça –, mas cabe tudo na fantasia brasiliense.

Sergio Moro está num partido sem muito dinheiro de fundo eleitoral, esbarra em imensas dificuldades para atrair aliados e está com 9% nas pesquisas de intenção de voto. O povão praticamente ignora a sua existência, e não está dito que ele terá traquejo para se dar bem em palanques e debates. Por esses motivos, não vejo, neste momento, muita possibilidade de a sua candidatura crescer enormemente. Como sempre faço questão de dizer, não sou futurólogo, apenas jornalista. Pode ser que esse quadro vire lá adiante. Mas, independentemente da minha miopia e dos cálculos que estão sendo feitos pelos seus adversários, ainda assim acho a intensidade dos ataques ao pré-candidato do Podemos desproporcionalmente alta e o nível, extremamente baixo. Por que tanto medo de Sergio Moro?

A minha tese é a de que a virulência não visa somente ao presente, mas ao futuro. Assim como políticos, juízes e advogados trataram de inviabilizar juridicamente o surgimento de outra operação Lava Jato, esses mesmos personagens, secundados por seus mercenários na imprensa, agora querem matar na raiz o crescimento de quem se opõe ao sistema que raptou a democracia brasileira. Foi o caminho que restou depois de não conseguirem impedir a entrada dos protagonistas da maior operação anticorrupção da história do país no cenário político, com aquela vergonha de quarentena de 8 anos para magistrados e procuradores. Moro é jovem. Completará 50 anos em agosto. Como é presumível que, mesmo que não seja eleito em 2022, continue a fazer política, poderá chegara à presidência em 2026, 2030, 2034 ou qualquer outra data nos próximos 20 anos. Se trabalhar direito e não entrar no desvio, terá condição de criar uma nova, forte e perigosa corrente política que represente um basta no Estado de Dinheiro, que se sobrepôs ao Estado de Direito. Não basta, portanto, matar o Moro do presente. É preciso matar o Moro do futuro.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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