E a live do Marçal com Boulos? Eles copiaram o humorista Maurício Meirelles
A política, que antes era uma arena de debates, está se transformando em um grande espetáculo de entretenimento. E o público está adorando.
Eu sempre disse que os políticos brasileiros estão em uma concorrência desleal com os humoristas. Mas, claro, eu me referia ao fato de que as notícias políticas são tão absurdas que ofuscam qualquer piada. Afinal, como competir com o ridículo das manchetes diárias? Mas agora a coisa foi além. Chegamos ao ponto em que os políticos estão literalmentecopiando os humoristas.
Vamos ao caso. Maurício Meirelles, humorista que tem o canal “Achismos” no YouTube, criou um formato inovador para suas sabatinas eleitorais: ele transformou a entrevista em uma espécie de entrevista de emprego, até com uma profissional de RH. Foi uma sacada brilhante. Pablo Marçal foi entrevistado, Boulos também. Os dois decidiram replicar o formato. Copiaram descaradamente e fingiram que a ideia era deles.
No mundo do entretenimento, o formato é um dos ativos mais preciosos que se pode ter. Formatos definem o sucesso na economia da atenção. Programas como Big Brother, por exemplo, são comercializados internacionalmente como grandes produtos. A Endemol, que vende o Big Brother pelo mundo, protege seu formato com unhas e dentes. Lembram quando o Silvio Santos tentou copiar com a “Casa dos Artistas”? Pois é, caiu por terra.
Mas os nossos políticos, ao que parece, não veem problema algum em roubar ideias. Boulos e Marçal participaram da sabatina de Maurício Meirelles e, logo depois, decidiram copiar o formato, sem nem ao menos dar o crédito ao humorista. Custa alguma coisa mencionar que a ideia veio dele? Não. Mas a arrogância política é tamanha que isso sequer passou pela cabeça deles.
Marçal, que é da área de conteúdo, sabe muito bem como essas coisas funcionam. Boulos também tem uma equipe de conteúdo e sabe do valor de uma ideia original. Mas, em vez de reconhecerem o trabalho do humorista, preferiram passar por cima. E isso, ao que parece, não é um fenômeno isolado. Fico pensando qual seria o resultado caso a dupla fosse a um show do Léo Lins.
A política, que antes era uma arena de debates, está se transformando em um grande espetáculo de entretenimento. E o público está adorando. As eleições municipais, especialmente em São Paulo, mais parecem um reality show, com candidatos competindo pela atenção como se estivessem na final de um Big Brother ou em uma briga de lavadeira na Fazenda. O eleitor, nesse cenário, vota no “mais divertido,” no “mais barraqueiro.” Mas, ao contrário dos realities, a brincadeira não acaba quando a temporada termina. Quem ganha manda por quatro anos.
E o que isso significa para o futuro da política? Com os políticos transformando tudo em espetáculo, até mesmo copiando humoristas, ficamos com uma pergunta no ar: qual é o limite entre o entretenimento e a governança? Porque, quando a política vira piada, o que sobra para o humor?
Enfim, como diria a grande filósofa Val Marchiori, “é isso que temos para hoje.” Quando chegamos ao ponto de ver nossos principais candidatos replicando formatos de humoristas, a única coisa que podemos perguntar é: que tipo de ficção será capaz de competir com a realidade?
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