Com passeata de Dino, STF vira o principal tema da polarização
A polarização entre lulismo e bolsonarismo não arrefeceu com a eleição de Lula, foi turbinada. Com a passeata de domingo e a indicação de Flávio Dino para uma vaga,...
A polarização entre lulismo e bolsonarismo não arrefeceu com a eleição de Lula, foi turbinada. Com a passeata de domingo e a indicação de Flávio Dino para uma vaga, o STF virou o tema central da polarização.
Para muitas pessoas, parecia que a equação era outra. Lulistas seriam aliados do STF e bolsonaristas seriam contra as ações da corte. No final das contas, não foi bem assim. A atuação dos ministros é útil para acender o debate político e favorecer ambos os polos.
O mais óbvio é a atuação do polo ligado ao ex-presidente. Já houve até declaração do atual presidente do STF dizendo que “derrotamos o bolsonarismo”. Jair Bolsonaro e seus filhos têm diversas ações judiciais pendentes, para além da que determinou no TSE a inelegibilidade.
Além disso, há a questão dos réus do 8 de janeiro, que promete trazer os mais variados tipos de problemas. São muitas pessoas, um volume de processos maior que a capacidade de julgamento e os questionamentos ficam numa temperatura cada vez mais alta.
Semana passada houve a crise com a morte de um dos réus, cuja soltura era recomendada até pela PGR, que faz a acusação. O caso, que está ainda em apuração, promete trazer mais combustível para ataques políticos.
Somado a este, houve o caso de Geraldo da Silva, morador de rua. O procurador Carlos Frederico Santos pediu a absolvição dele. “Durante a instrução processual restou demonstrado que o denunciado Geraldo Filipe da Silva não tem nenhum tipo de vínculo com os demais autuados”, diz o pedido. Há ainda um outro detalhe, ele foi agredido pelos manifestantes antes de ser preso. Ficou dez meses na cadeia. Dificílimo de explicar.
É com este espírito que a passeata juntou muita gente na avenida Paulista, de forma a reacender principalmente os grupos de redes sociais. Já é um grupo político que tem se posicionado contrário ao STF há algum tempo.
O polo lulista não faz esse posicionamento, mas se posiciona para ter um STF e também uma PGR diferentes da época em que Lula foi preso. Isso ficou claro com as indicações de hoje, feitas de forma estratégica, em cima do turbilhão político gerado com a passeata.
O ministro Flávio Dino é, arrisco dizer, o que mais atua na opinião pública em todo o governo. Chegou a ser cotado como alternativa governista para 2026. Agora ele está fora dessa corrida, traçando cada vez mais um cenário em que Lula sai para a reeleição.
As duas indicações do presidente fragilizam a imagem técnica da corte. E é bom deixar claro que isso independe da atuação em si desses ministros indicados. O universo jurídico é de difícil compreensão, então as aparências ganham ainda mais importância.
Lula indica primeiro seu advogado pessoal, responsável por conseguir que ele saísse da cadeia e se tornasse um candidato viável para a presidência. Agora indica seu ministro que mais brilha nos embates políticos na imprensa e nas redes sociais. Eles levam essa marca mesmo que suas decisões sejam independentes.
O escolhido para a PGR, Paulo Gonet, é procurador de carreira e antes disso foi assessor do ministro Francisco Rezek no STF. Tem um perfil tradicional, de agir contra o mundo político somente em situações limite. É a tentativa de estabelecer uma composição diferente daquela que propiciou a prisão de Lula.
Interessa para ambos os polos manter o STF no centro da polarização. Resta saber se e quando a corte tomará atitudes que mudem essa lógica.
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