Chocolate com política de Felipe Neto pode ser início do fim dos cancelamentos
No final de semana, o mundo político se dividiu entre Bis e KitKat. O noticiário político confundiu apenas com mais um embate entre lulismo e bolsonarismo. Na análise de negócios e da dinâmica digital, existe muito mais coisa aí. Podemos estar diante do início do fim dos cancelamentos...
No final de semana, o mundo político se dividiu entre Bis e KitKat. O noticiário político confundiu apenas com mais um embate entre lulismo e bolsonarismo. Na análise de negócios e da dinâmica digital, existe muito mais coisa aí. Podemos estar diante do início do fim dos cancelamentos.
Primeiro, é necessário definir cancelamento. Muita gente confunde com indignação, xingamentos e até bloquear alguém. Cancelamento é uma ação orquestrada para inviabilizar politicamente, socialmente e financeiramente um adversário ou concorrente.
Precisa necessariamente ser algo orquestrado, seguindo duas lógicas principais. A primeira é isolar a ovelha do rebanho e atacar em enxame, prática em que um grupinho se une para bombardear um só perfil e quem se meta a defender. A outra é jamais admitir perdão, ter compaixão ou cogitar redenção.
Geralmente a orquestração é feita por um pequeno grupo, o interessado em derrubar o adversário ou concorrente para lucrar. A grande maioria dos ataques não virá, no entanto, desse grupo. Esse tipo de ação energiza uma série de pessoas reais, com problemas emocionais, que se dedica a ataques por pertencimento e sinalização de virtude.
Durante muitos anos, isso rendeu muito dinheiro a muitos influencers. Alguns passaram a ser chamados de ativistas pela imprensa. Diversos influencers que vivem desse bullying virtual são contratados a peso de ouro por grandes empresas para treinamentos de inclusão ou diversidade.
Felipe Neto é um dos expoentes dessa metodologia e sempre ganhou muito dinheiro com isso. O tiro pela culatra da campanha de Bis mostra, no entanto, que essa prática pode estar se exaurindo no mercado.
A questão com o influencer não foi uma reação de bolsonaristas nem uma reação à contratação de alguém de esquerda. Isso veio depois que o circo já estava bem armado.
A marca detentora do Bis disse ao jornal Meio e Mensagem que não tem preferência ideológica, escolheu os influencers da ação com base na atuação deles no mercado de games. Era um evento voltado para gamers.
Essa escolha geralmente leva em conta a quantidade de seguidores e o engajamento. É precisamente o critério que tornou o cancelamento tão bem-sucedido no Brasil. Quando mais pessoas você ataca, mais você forma um grupo que engaja muito. Se você fizer isso o tempo todo e tiver o cuidado de fingir que é por uma boa causa, será recompensado com contratos de grandes empresas.
Muitas empresas já perceberam as práticas predatórias desse mercado. Elas próprias são canceladas por influencers e, muitas vezes, isso só para de acontecer quando coincidentemente contratam alguém do grupo.
A grande mudança agora é que uma empresa contratou alguém que atua com cancelamentos e não conseguiu se blindar nas redes, muito pelo contrário. Por isso digo que pode ser o início do fim dos canceladores.
O problema com Felipe Neto começou na comunidade gamer, não na política. Meses atrás, houve uma polêmica gigantesca envolvendo o influencer e a empresa de apostas Blaze, que o patrocinava. É algo que passou longe do radar da grande mídia.
Foi uma briga bem acirrada, porque a marca patrocinava muitos influencers. Vários chegaram a dispensar o patrocinador. Um influencer com quem conversei diz que, num primeiro momento, a empresa permitia que se alertasse sobre o risco de vício em jogos. Depois, queria que dissesse até que era um tipo de investimento.
Felipe Neto chegou a falar isso. Depois voltou atrás. Jamais, no entanto, declinou o patrocínio ou se arrependeu.
Isso revoltou seguidores de influencers cancelados anteriormente por Felipe Neto ou pelo Sleeping Giants. E aí ele acabou falando mal dos influencers que anunciam chocolates.
Cobrado a se pronunciar sobre a ética de anunciar a Blaze, disse que deveriam cobrar quem faz anúncio de chocolate, já que açúcar mata. Dias depois, foi contratado para ser garoto-propaganda de um dos chocolates mais famosos do país. Foi aí que começou o buxixo online.
Logo os bolsonaristas, craques no digital, captaram a tendência. Como Felipe Neto se associou ao lulismo, se puseram contra a marca. Passaram a advogar pela marca concorrente.
A marca Bis passou a ser torpedeada. Houve um boicote. Muito improvável que tenha consequências, mas ele abala a marca. Algo que durante décadas era para todos os brasileiros passou a ser nichado. Toda marca deseja o oposto, sair do nicho para o grande público.
A empresa calou, esperando a poeira baixar. Os lulistas então embarcaram na onda, relacionando o Bis com um pedido pela reeleição de Lula em 2026. A coisa só vai piorando.
O público começou a perceber a dinâmica do cancelamento. Isso significa que, quando uma empresa se une a um cancelador, leva essa energia para dentro do negócio. As pessoas não caem mais na conversa nem se intimidam com o movimento em enxame dos influencers amigos e robôs. Chegou a hora de parar de premiar canceladores.
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