Bolsonaro e o vice viável
Jair Bolsonaro deve anunciar em breve o nome do vice em sua chapa eleitoral. O Antagonista já antecipou diversas possibilidades, como os ministros Fábio Faria, das Comunicações; Ciro Nogueira, da Casa Civil; Walter Braga Netto, da Defesa; e Tereza Cristina, da Agricultura. Pedro Guimarães, o presidente da Caixa Econômica Federal, é mencionado vez ou outra como uma alternativa. Minha aposta é Braga Netto, ou algum outro militar...
Jair Bolsonaro deve anunciar em breve o nome do vice em sua chapa eleitoral. O Antagonista já antecipou diversas possibilidades, como os ministros Fábio Faria, das Comunicações; Ciro Nogueira, da Casa Civil; Walter Braga Netto (foto), da Defesa; e Tereza Cristina, da Agricultura. Pedro Guimarães, o presidente da Caixa Econômica Federal, é mencionado vez ou outra como uma alternativa.
Minha aposta é Braga Netto, ou algum outro militar.
A definição de um vice precisa levar em conta tanto o período de campanha quanto o cotidiano de um eventual governo.
Vices que trazem votos são raríssimos. Ninguém elege ou deixa de eleger alguém por causa do vice. Existem, no entanto, “companheiros de chapa” que, mesmo sem aumentar a votação, pode alargar os horizontes da campanha, indicando que o candidato está disposto a se relacionar com gente que não pertence à sua bolha política. Toda a conversa sobre a parceria entre Lula e o ex-tucano Geraldo Alckmin gira em torno dessa premissa.
Há um terceiro tipo de vice: o basiquinho. Ele não soma nem subtrai, apenas reitera as impressões já existentes sobre o candidato – tanto as boas quanto as más.
Todos os nomes sobre os quais se especula para nosso antipresidente são desse tipo básico. Nenhum deles representa um segmento que já não esteja ligado ao bolsonarismo: militares, agro, Centrão, o bolsão do empresariado que pensa como Sílvio Santos, sogro de Fábio Faria.
E Pedro Guimarães, que vem do setor financeiro? Ele sempre teve fama de destrambelhado no mercado. É improvável que fizesse banqueiros e bancários desiludidos recuperarem a fé em Bolsonaro.
Resta então imaginar o papel do vice durante o governo. Ele pode executar funções administrativas ou de articulação política. Mas, dado o perfil paranoico de Bolsonaro e sua real fragilidade no Congresso, nada disso deve interessar-lhe. Seu vice deve preencher uma outra condição: não pode ser fácil para ele puxar o tapete do presidente.
Isso já exclui todos os políticos da lista de vices viáveis.
Ciro Nogueira é o menos plausível de todos. Por que ele e o Centrão se contentariam com papéis de coadjuvante, podendo ocupar a ribalta? Em dois meses, Arthur Lira, que muito provavelmente vai se reeleger para a presidência da Câmara em 2023, reciclaria um daqueles inúmeros pedidos de impeachment guardados na sua gaveta, ou rabiscaria um outro. Você acha que Lira e Nogueira têm mais escrúpulos que Macbeth, aquele personagem de Shakespeare que usurpou o trono da Escócia? Num piscar de olhos, os dois deixariam de controlar Bolsonaro para controlar diretamente a coisa toda.
Não é muito diferente com Fábio Faria. Ele parece cada vez mais alinhado ideologicamente ao bolsonarismo. Mas pertence ao PSD, aquele partido que não é nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Gilberto Kassab, o dono dessa legenda sem nenhum caráter, e um dos políticos mais matreiros em atividade, certamente teria argumentos para convencer Faria a trair Bolsonaro.
A alternativa menos arriscada parece ser Tereza Cristina. Ela foi uma exceção em meio ao tumulto perpétuo do governo Bolsonaro. Fez o seu trabalho em silêncio, estancou crises e não se contaminou com as maluquices e perversões à sua volta. Está menos mergulhada nas maquinações do Congresso do que Ciro Nogueira, e tem mais “gravitas” do que Fábio Faria. Não parece ser dada a conspirações. Mas suas virtudes acabam sendo o seu ponto fraco. Por que alguém ficaria com um Bolsonaro se pudesse ter uma Tereza Cristina?
Bolsonaro não vai correr nenhum desses riscos. Sobra Walter Braga Netto. Entre todos os vices basiquinhos à disposição, ele é o que traz os benefícios mais palpáveis. Além de já ter demonstrado fidelidade a Bolsonaro, sua escolha manteria os militares onde estão hoje, com Hamilton Mourão, e eles são um segmento importante do bolsonarismo. As chances de Braga Netto conseguir articular um impeachment no Congresso não ínfimas.
Bolsonaro ainda pode surpreender? Parece improvável. Acredito que o fator preponderante para sua decisão será o medo do impeachment e, nesse caso, a escolha mais segura é mesmo a do general Braga Netto.
Mas tudo isso só importa se o Brasil continuar flertando com o abismo. Se tudo correr bem, Bolsonaro será varrido para o lixão da política no primeiro turno das eleições deste ano. A sua escolha de vice terá sido, então, algo da mais absoluta irrelevância.
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