Ambições de Lula estão divorciadas das expectativas do Brasil
A saia justa em que Lula meteu o ministro Fernando Haddad mostra que suas ambições pessoais são diferentes daquilo que o Brasil espera...
A saia justa em que Lula meteu o ministro Fernando Haddad mostra que suas ambições pessoais são diferentes daquilo que o Brasil espera. O presidente parece preocupado em ser reconhecido internacionalmente. O país esperava melhora na economia.
Na semana passada, a pesquisa Genial-Quaest levantou quais as notícias boas e ruins ouvidas pelas pessoas sobre o governo. Entre as 11 citadas, 10 têm relação com economia. A outra é a posição do governo por ter trazido brasileiros da faixa de Gaza.
São favoráveis para o governo temas como aumento do Bolsa Família, relançamento do Minha Casa, Minha Vida, aumento do salário mínimo acima da inflação e o lançamento do programa Desenrola, para quitar dívidas. Não é nisso, no entanto, que se concentram os esforços do presidente.
Lula está pessoalmente dedicado a ser reconhecido internacionalmente. Basta surgir qualquer conflito que o presidente brasileiro aparece em busca de protagonismo. Também tem corrido o mundo no que diz ser uma jornada para resgatar a imagem internacional do Brasil.
Nada do que ele tem feito nessa área agrada o brasileiro, segundo também mostra a pesquisa Genial Quaest. Quando se pergunta quais as notícias ruins que a pessoa ouviu sobre o governo, a primeira é a posição no conflito Israel-Palestina. A maioria queria que o Brasil dissesse que o Hamas é terrorista.
Em segundo vem “não faz o que promete e é corrupto”. Em terceiro vem “viaja demais”, um ponto bem mais importante do que parece. As relações com países como Venezuela, a história das ditaduras entrando nos Brics, a posição sobre a invasão da Ucrânia e as falas do presidente também são vistas como notícias ruins.
O que derrubou o PT do poder foi a economia, uma semeadura de más decisões que Dilma Rousseff colheu em forma de tempestade. Lula parece se esquecer disso. É por isso que enfiou Fernando Haddad numa saia justa ao dizer que não vai cumprir as metas que o próprio governo estipulou para si no arcabouço fiscal.
Agora o ministro virou uma espécie de tradutor de político, tentando dizer que Lula não disse o que disse. Não respondeu, no entanto, se as metas vão mudar. O presidente usa habilmente a narrativa de que não deixará de fazer obras para cumprir metas, o que cola com a parte da militância que abomina matemática. A discussão nunca foi deixar de fazer obra, sempre foi desinchar a máquina pública.
O governo precisa arrecadar mais R$ 180 bilhões em impostos para cumprir as metas. Isso se não aumentar mais os gastos. Parece difícil de cumprir.
A saída agora tem sido inventar que o descumprimento beneficia os pobres e Lula se preocupa só com eles. Grande mentira, são justamente os pobres que primeiro sentem os efeitos do descontrole econômico de um governo.
As pessoas têm dito que Lula “viaja demais” porque há uma colisão de visões de mundo. O brasileiro esperava uma melhora na economia e vê viagens internacionais quase como um fetiche. O sonho de muita gente é um dia poder viajar a outro país.
A economia não melhorou como prometido, a picanha não voltou ao churrasco e o presidente está andando pelo mundo com o dinheiro do povo. É algo muito forte no imaginário, e Lula, como político hábil, compreende essa dinâmica.
Se quiser fortalecer o PT para as próximas eleições, ele precisa focar na economia e pegar mais leve com a ambição de ser destaque internacional. Resta saber o que importa mais para Lula, o futuro do partido ou seu legado pessoal.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)