Alexandre Soares na Crusoé: Uma visita ao zoológico
Gasto um bom dinheiro para matar a curiosidade sobre as suas águia-carequices das águias carecas
Como todas as pessoas sempre fizeram ao longo dos séculos, gosto de pensar no país dos outros como um cercadinho de animais pitorescos.
Viajo, por exemplo, para ir ver o equivalente humano de uma população de águias carecas no seu habitat natural, fazendo coisas típicas de águias carecas.
Gasto um bom dinheiro para matar a curiosidade sobre as suas águia-carequices das águias carecas, tirar fotos, etc.
E o mesmo para pandas, ou koalas, ou coisas assim.
Antes que me digam que estou animalizando seres humanos, ora faça-me o favor — sim, estou, mas reconheçamos que o zeitgeist moderno operou uma reversão dessa valoração aí, e faz muito tempo que colocamos os animais acima de seres humanos.
E, pela parte que me toca, essa valoração está certa. Em toda a criação, me aponte um animal que seja espiritualmente inferior a uma certa dirigente petista.
De modo que, ao pensar nos países dos outros como cercadinhos de animais, eu de fato estou animalizando pessoas, na minha mente, mas é para poder simpatizar com elas.
Para elevá-las no meu conceito até a altura espiritual de um pavão-azul, digamos, ou de uma hiena-listrada; e não para rebaixá-las. É muito diferente.
Animalizar já faz tempo que quer dizer o que antes queria dizer humanizar.
Enfim, gosto de viajar para outros países porque é parecido com a experiência de ir ao zoológico com a família.
E basicamente sou contra excessos imigratórios porque, quando visito um país, quero que seja como a experiência de chegar perto da jaula de um tipo de animal; não quero todos os animais numa jaula só.
Quero ver o laguinho das lontras, depois a jaula dos tigres, etc.
Mas não. Ao chegar no laguinho das lontras, uma plaquinha avisa que houve um problema na jaula dos tigres-de-Sumatra e eles tiveram que vir em massa para o laguinho das lontras. E eu quase só vejo tigres no laguinho das lontras.
Uma ou outra lontra aterrorizada, saindo nervosinha da toca pra tomar um banho e depois voltando para a segurança da sua toquinha.
Algumas manchas de sangue inexplicáveis e sinistras no tobogã abandonado. E tigres para todo o lado.
Gosto de tigres — espero que isso fique claro.
De Sumatra, da Indochina, de Bengala, de onde for.
Não sou um desses ideólogos anti-tigres. Mas queria ver os tigres na jaula, ou no fosso, ou no enclave dos tigres,…
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