A hora de Biden
Joe Biden falará hoje ao Congresso americano, às 23h, no tradicional discurso do Estado da União. O pronunciamento deveria ter ocorrido no dia 20 de janeiro, mas acabou adiado e, não por coincidência, ganhou musculatura após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Se antes o presidente americano trataria apenas das questões domésticas que afligem os americanos, especialmente a inflação, a tendência agora é que ele dedique a maior parte do tempo para falar da coalizão internacional contra a tirania de Vladimir Putin...
Joe Biden falará hoje ao Congresso americano, às 23h, no tradicional discurso do Estado da União. O pronunciamento deveria ter ocorrido no dia 20 de janeiro, mas acabou adiado e, não por coincidência, ganhou musculatura após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Se antes o presidente americano trataria apenas das questões domésticas que afligem os americanos, especialmente a inflação, a tendência agora é que ele dedique a maior parte do tempo para falar da coalizão internacional contra a tirania de Vladimir Putin.
Em linha com o discurso ensaiado no dia do anúncio das sanções econômicas, analistas e políticos esperam de Biden um apelo ainda mais forte pela união dos americanos em defesa das liberdades — uma chance de se redimir do vexame da retirada das tropas do Afeganistão. “Não há dúvida de que este discurso será um pouco diferente do que teria sido há apenas alguns meses”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, na segunda-feira. Segundo ela, o presidente detalhará seus esforços “para reunir o mundo para defender a democracia e contra a agressão russa”.
Mas não será um passeio, pois o presidente americano e outras lideranças ocidentais têm sido pressionadas a tomar medidas mais duras para salvar a Ucrânia do massacre que se avizinha.
Mais cedo, o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, fez um apelo emocionado ao Parlamento europeu, cobrando de seus líderes que “provem que estão conosco, provem que não nos abandonarão, provem que são europeus”. “Assim, a vida vencerá a morte e a luz vencerá a escuridão.” O discurso de mais de 7 minutos foi recebido com uma longa salva de palmas dos representantes europeus. Zelensky, que rejeitou oferta de carona dos EUA para deixar o país, admitiu que não esperava ter de pagar um preço tão alto na defesa de valores, direitos e liberdades.
Como também disse o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, não “é apenas um ataque a um país livre e soberano, mas um ataque aos nossos valores de liberdade e democracia e à ordem internacional que construímos juntos”. O problema é que as sanções econômicas, por mais duras e inéditas, não intimidaram Putin. O dia de hoje foi marcado por intensos bombardeios, com vítimas civis e tentativas desesperadas dos ucranianos para tentar parar os blindados que invadem seu território.
O desespero foi escancarado pela repórter ucraniana Daria Kaleniuk, que chegou às lágrimas ao confrontar Boris Johnson durante coletiva de imprensa. “Por que você tem medo, por que a Otan não está disposta a nos defender? Por que a Otan tem medo da Terceira Guerra Mundial? Mas ela já começou.” O próprio Zelensky, há pouco, reiterou seu apelo: “Devemos parar o agressor o mais rápido possível.”
Em entrevista à MSNBC, a ex-senadora democrata Claire McCaskill, que comandou o Comitê de Serviços Armados, diz que Biden tem diante de si “uma oportunidade que aparece muito raramente na política presidencial”. Para ela, o presidente deveria convidar Zelensky para o discurso, dando a ele um novo significado que não o burocrático.
“Se ele quer unidade, se eu estivesse em seu gabinete, estaria dizendo a ele, rasgue o discurso e faça tudo isso – quero dizer, se ele pudesse colocar uma tela lá e Zelensky viesse dar um breve ‘obrigado por nos apoiar e isso é importante’, quero dizer, ele poderia ter o primeiro discurso do Estado da União na minha vida adulta, onde não estávamos contando quantas vezes as pessoas estavam de pé ou sentadas com base de que lado do corredor você se sentou.”
O tempo está correndo.
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