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A esquerda brasileira é antissemita e antissionista? Vamos pesquisar

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Madeleine Lacsko
6 minutos de leitura 05.02.2024 18:18 comentários
Opinião

A esquerda brasileira é antissemita e antissionista? Vamos pesquisar

A palavra sionismo ganha, nesse discurso odioso, o status de xingamento. Defender que o povo judeu tenha um Estado seria algo deplorável

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Madeleine Lacsko
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A esquerda brasileira é antissemita e antissionista? Vamos pesquisar
Reprodução/ Redes Sociais

Herta Breslauer é dona de uma loja de produtos místicos em Arraial D’Ajuda, no litoral sul da Bahia. Este final de semana, teve de ir à polícia e virou tema nas redes e na boca das autoridades.

Você deve ter visto o vídeo. Uma mulher tenta quebrar a loja em um ataque antissemita. É contida por um homem. Fica gritando xingamentos e acusa Herta Breslauer de ser sionista assassina de bebês. O único dado concreto que ela tem sobre a dona da loja é ser judia. Não há acusação de que tenha matado bebês. Nem sabemos se é ou não sionista, ou seja, defensora de um Estado para os judeus.

A palavra sionismo ganha, nesse discurso odioso, o status de xingamento. Defender que o povo judeu tenha um Estado seria algo deplorável, diabólico, que justifica qualquer ataque. Para além disso, não se enxerga uma pessoa pelo ângulo das próprias ações e biografias. Ela é desumanizada, ganha o carimbo de judia e, por isso, pode ser alvo de uma agressão.

Infelizmente, não é um caso isolado. Muitas lideranças políticas importantes têm feito uma confusão entre a política do oriente médio e o tratamento social dado a judeus. Se o boiadeiro toca um berrante antissemita, é inevitável que o gado se torne violento, disse esses dias um grande pensador.

O ministro dos Direitos Humanos foi incapaz de, vendo o vídeo de um ataque antissemita, simplesmente condenar o ato. Deita e rola em um recurso retórico muito comum nos ambientes de terrorismo estocástico, conceito que explico melhor a seguir.

Silvio Almeida fez uma postagem utilizando um recurso retórico muito comum para relativizar agressões, inibir quem se insurge contra elas e promover justificativas morais veladas. Não fala só do ataque, precisa trazer à cena os atos do governo de Israel que, até onde sabemos, não é proprietário de uma lojinha mística em Arraial D’Ajuda.

“REPÚDIO AO ANTISSEMITISMO E À ISLAMOFOBIA

A absoluta e necessária condenação do massacre contra o povo palestino na Faixa de Gaza, perpetrado pelo governo de Israel, não justifica e tampouco autoriza o antissemitismo.

Por isso, manifestamos nosso repúdio ao ataque sofrido pela comerciante judia Herta Berslauer, em Arraial d’Ajuda, que teve seu estabelecimento comercial destruído de forma criminosa, por pessoa motivada pelo antissemitismo. Esperamos que a autora do ataque seja responsabilizada civil e criminalmente.

Posturas antissemitas, e da mesma forma, islamofóbicas, devem ser fortemente repreendidas – ética e juridicamente, – por incompatíveis com a legalidade, com os direitos humanos e com a defesa da democracia.”, diz o ministro (grifos meus).

É o mais puro suco de relativismo. Não houve uma agressão islamofóbica, houve uma agressão antissemita. A fala do ministro evoca a ideia de que não é possível simplesmente se indignar contra o antissemitismo. Lembra o pessoal que gritava “todas as vidas importam” diante dos protestos pelo assassinato de George Floyd com o slogan “vidas negras importam”.

Talvez seja coincidência que dia desses Sayid Tenório tenha participado de um evento no Ministério dos Direitos Humanos. É uma eminência parda da esquerda que defende o Hamas e o Hezbollah. Havia tirado foto com o ministro pouco tempo antes do 7 de outubro. No dia dos ataques, diante da foto da refém Naama Levy com a calça ensanguentada, debochou: “Isso é marca de merda. Se achou nas calças.”. Acrescentou um emoji de risada. Perdeu o emprego num gabinete mas não o acesso a ministérios.

Volto aqui ao chamado terrorismo estocástico, uma forma de discurso e manipulação de massas que tem se tornado cada vez mais comum no debate político. Estocástico é o processo que pode ser analisado por meio de probabilidades. É esperado que falas antissemitas ou dissonância cognitiva sobre judeus gerem atos de violência. Por não serem uma ordem direta, não se sabe como, quando e onde esses atos vão ocorrer, por isso é estocástico.

Há 20 anos, o então ministro das Relações Exteriores de Lula, Celso Amorim, condenou o assassinato do líder espiritual do Hamas, Ahmed Yassin. Ele foi morto em um ataque israelense. As declarações recentes do presidente Lula sobre o ataque terrorista do Hamas seguem na mesma toada.

O manifesto de criação do Hamas, de 1988, diz o seguinte: “A hora do
julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por mata-los e mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o”. Parece uma afirmação clara, que contextualiza exatamente de que se trata o conflito. Nada indica ser uma questão territorial.

Fingir que isso não existe é parte de um dos quatro pilares do discurso de terrorismo estocástico, a dessensibilização. A linguagem violenta contra um grupo passa a ser aceita como se normal fosse.

Isso acontece geralmente depois de duas fases. A primeira é a escolha do grupo alvo, que passa a ser responsável por todos os males do mundo. A segunda é a desumanização de quem faz parte do grupo, que não será mais considerado pela própria biografia e ações, mas simplesmente por ser parte do grupo.

Disso para a agressão violenta é um pulo. E depois vem o pulo do gato do terrorismo estocástico: a liderança diz que não incentivou nada e não tem nada com isso, já que não foi dada uma ordem direta. A mensagem fica bem clara quando não se condena o ataque, se faz um malabarismo retórico trazendo outros fatos à cena como comparação.

Não há como fazer a mesma coisa e ter dois resultados diferentes. Dia desses, uma das mais importantes lideranças petistas dizia ser uma boa ideia boicotar negócios de judeus. Arraial D’Ajuda é um sintoma disso. A história mostra onde isso pode chegar.

As providências legais foram tomadas. A Conib e outras entidades judaicas tiveram pronta reação. É preciso ir além e parar de aceitar socialmente a desumanização como método político.

Visitei semana passada o Museu do Holocausto em Jerusalém. Uma frase, do escritor alemão Kurt Tucholsky, não sai da minha cabeça: “Um país não é apenas o que ele faz. Mas o que ele tolera…”.

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