A desculpa de Bolsonaro para abandonar a corrida eleitoral
O cenário de desistência de Jair Bolsonaro de concorrer à reeleição está posto e ganha contornos mais claros à medida que o presidente da República vê a sua aprovação como governante decrescer, o que se reflete nas pesquisas eleitorais. É uma possibilidade, embora nada esteja definido até o momento. Em caso de abandono da disputa, a grande questão, para ele, seria encontrar uma forma de proteger-se das sentenças condenatórias nos processos que enfrenta. Sentenças que podem levá-lo, sim, a ser preso...
O cenário de desistência de Jair Bolsonaro de concorrer à reeleição está posto e ganha contornos mais claros à medida que o presidente da República vê a sua aprovação como governante decrescer, o que se reflete nas pesquisas eleitorais. É uma possibilidade, embora nada esteja definido até o momento. Em caso de abandono da disputa, a grande questão, para ele, seria encontrar uma forma de proteger-se das sentenças condenatórias nos processos que enfrenta. Sentenças que podem levá-lo, sim, a ser preso.
Perguntaram-me na semana passada como Jair Bolsonaro poderia abandonar a disputa. Mais precisamente, qual discurso ele usaria para justificar a sua fuga da corrida eleitoral? Respondi que seria levantar dúvidas, outra vez, sobre a lisura do processo eleitoral. Dito e feito. Poucos dias depois, durante uma live, o presidente da República voltou a dizer que as urnas eletrônicas não eram confiáveis e que o Exército havia detectado “dezenas de vulnerabilidades” nelas. E o ministro da Defesa, Braga Netto (na foto, com Bolsonaro), para descontentamento dos militares, mais uma vez se prestou ao papel vexaminoso de ser cúmplice nessa farsa, deixando correr a versão de que as Forças Armadas haviam questionado o TSE sobre a segurança das urnas. Na verdade, como informou a repórter Andréia Sadi, “integrantes da alta cúpula do Exército se irritaram com a nova investida de Bolsonaro contra o Judiciário. Repetem que as perguntas oficiadas ao TSE não tramitaram pelo Exército e que o militar que elaborou as perguntas não só foi designado por Braga Netto como é vinculado ao Ministério da Defesa”. Assim como Jair Bolsonaro, Braga Netto deveria se haver com a Justiça nesse caso.
Como eu disse aos meus interlocutores, Jair Bolsonaro quer ter essa desculpa esfarrapada na ponta da língua, se vier a desistir da reeleição — a de que não participará de um processo eleitoral fraudulento, que teria sido montado para impedi-lo de ser reconduzido ao Palácio do Planalto. O problema é que, desse modo, ele poderá se encalacrar ainda mais na Justiça. Fugir de uma eventual derrota em eleições limpas, contudo, parece ser a questão mais urgente de Jair Bolsonaro. Ele poderá até usar a sua desistência como alavanca para um acordão político-judicial que o livre de ter o destino que merece. Se optar por permanecer na disputa, a fake news sobre as urnas eletrônicas serviria também para justificar a derrota e tentar manter mobilizada a sua base, assim como ocorreu como Donald Trump nos Estados Unidos, mas aí haveria o ônus do fracasso, além de todos os outros.
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