Venezuela: “O que vivemos foram 25 anos de devastação”
"Um país que outrora era um dos mais prósperos da região hoje se encontra mais pobre que o Haiti. O que era considerado uma das democracias mais estáveis da América do Sul se transformou em uma tirania criminosa", lamenta Corina Machado
María Corina Machado, uma das principais vozes da oposição venezuelana, encontra-se em situação de clandestinidade em seu país, à medida que o regime de Nicolás Maduro se prepara para mais um ato de imposição de poder, após ser derrotado em eleições, mas de autodeclarar fraudulentamente vencedor.
Corina Machado, que tem se destacado por sua resistência e determinação, faz um apelo à comunidade internacional para intensificar os esforços na restauração da democracia na Venezuela, que sofre as consequências de 25 anos de governo chavista.
Reconhecida internacionalmente por sua luta pelos direitos humanos, a líder oposicionista recebeu o prêmio Václav Havel do Conselho da Europa e o prêmio Sakharov do Parlamento Europeu em outubro de 2024.
Desde a reeleição contestada de Maduro, que ocorreu em julho do ano anterior, ela vive sob risco constante. Em entrevista ao jornal francês Le Figaro, ela comentou a situação atual e as expectativas para a almejada transição de poder
A seguir, os principais trechos da entrevista
25 anos de devastação
“O que vivemos foram 25 anos de devastação. Um país que outrora era um dos mais prósperos da região hoje se encontra mais pobre que o Haiti. O que era considerado uma das democracias mais estáveis da América do Sul se transformou em uma tirania criminosa que forçou quase um terço da população a buscar refúgio fora de suas fronteiras.
A crise migratória no nosso país é maior do que as enfrentadas por Ucrânia ou Síria. O regime é acusado de crimes contra a humanidade e milhares estão detidos apenas por terem participado de processos eleitorais”.
A última eleição
“Foi uma vitória monumental para o povo venezuelano. Todos sabem agora a verdade. Disseram-nos que era impossível vencer Maduro e comprovar nossa vitória. Em menos de 24 horas, obtivemos mais de 80% dos resultados oficiais dos votos e os disponibilizamos online para a análise global. Isso nunca havia sido feito antes no mundo sob um regime autoritário”
Temor pela própria vida
“Todos os líderes do nosso movimento estão atualmente enfrentando prisões ou exílio. Fui acusada de terrorismo e ameaçada com prisão perpétua. Não tenho certeza sobre o que eles pretendem fazer comigo, mas é evidente que não querem que eu continue minha luta”.
Protestos contra Maduro?
“Acredito firmemente que temos não apenas o direito, mas o dever de defender a soberania popular. Nossa luta não é só por nós; é pelas futuras gerações. Nós já conseguimos despojar o regime de seu suporte social e eles estão isolados internacionalmente.
A força militar também sabe da verdade; eles estavam presentes durante as eleições e têm consciência do resultado real. Estamos nos aproximando de um ponto crítico previsto pela Constituição – um momento crucial para Maduro e não para nós – e defenderemos essa vitória até onde for necessário”.
Possibilidade de transição democrática
“Estou convicta de que isso acontecerá. Uma vez alcançada essa transição na Venezuela, creio firmemente que também veremos movimentos similares em Cuba e na Nicarágua”.
Mensagem à comunidade internacional
“Solicito ações concretas da comunidade internacional, especialmente da Corte Penal Internacional, que deve tomar decisões urgentes sobre os crimes cometidos por Maduro e seu governo. É inaceitável que ainda não tenham feito isso após dez anos de investigação”.
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