ONU prefere Talibã às mulheres afegãs
“Ao abandonar o seu dever de defender os direitos humanos e a participação das mulheres num esforço vergonhoso para apaziguar os Talibãs, a ONU está causando danos permanentes à sua credibilidade”, escreveu Sahah Fetrat, da Human Rights Watch
Associações de direitos humanos pelo mundo inteiro estão criticando as Nações Unidas depois que a organização convidou os talibãs a participarem da reunião sobre o Afeganistão, que terá lugar em Doha, Catar, entre 30 de junho e 1 de julho, cedendo às exigências do grupo fundamentalista de que mulheres afegãs não estariam presentes no encontro.
“Os abusos talibãs aprofundam-se diariamente, violando os direitos das mulheres e moças afegãs de estudar, trabalhar, procurar cuidados de saúde, escapar à violência e até mesmo simplesmente andar na rua. Muitas mulheres afegãs recorrem à ONU para corrigir as coisas – para responsabilizar os talibãs pelos seus crimes, por fazerem do Afeganistão uma prisão sufocante para mulheres e moças – mas ficaram desiludidas com as respostas ineficazes da ONU”, escreveu Sahah Fetrat, pesquisadora, da Human Rights Watch.
A ONU, fazendo todos os esforços para conseguir a participação dos talibãs, elaborou uma agenda excluindo direitos humanos e uma lista de convidados que excluiu as mulheres afegãs das reuniões. Isso significa aqueles que são mais afetados pelos abusos talibãs estão sendo marginalizados e excluídos pela ONU, sendo impossibilitados de falar sobre o seu destino.
Isso contraria, inclusive, a Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU sobre as mulheres, a paz e a segurança, que procura garantir a plena participação das mulheres nas principais discussões internacionais.
“Ao abandonar o seu dever de defender os direitos humanos e a participação das mulheres num esforço vergonhoso para apaziguar os Talibãs, a ONU está causando danos permanentes à sua credibilidade”, escreveu ainda Sahah Fetrat
Anistia Internacional cobra ONU sobre mulheres afegãs
A Secretária-Geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, também se manifestou sobre a situação:
“A credibilidade desta reunião ficará em frangalhos se não abordar adequadamente a crise dos direitos humanos no Afeganistão e não envolver as mulheres afegãs defensoras dos direitos humanos e outras partes interessadas relevantes da sociedade civil afegã.
Ceder às condições impostas pelos Talibã para garantir a sua participação nas conversações representaria o risco de legitimar o seu sistema de opressão institucionalizado baseado no gênero – um sistema que tem procurado apagar as mulheres e as meninas da sociedade, privando-as insensivelmente dos seus direitos mais fundamentais.
“A comunidade internacional deve adotar uma posição clara e unida: os direitos das mulheres e das meninas no Afeganistão não são negociáveis. Eles devem estar no centro da reunião convocada pela ONU em Doha, que deverá resultar na sua restauração”, argumentou Agnès Callamard.
Em 6 de Junho de 2024, a Amnistia Internacional juntou-se a 10 outras organizações numa carta ao Conselho de Segurança da ONU e aos Estados-Membros, instando-os a garantir que os direitos das mulheres sejam centrais em todas as discussões na próxima reunião em Doha. Exortou também os Estados-Membros a evitarem a normalização ou legitimação dos Talibã até que haja progressos demonstrados, mensuráveis e verificados de forma independente em todos os direitos humanos, especialmente os direitos das mulheres.
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