O fantasma dos pogroms nazistas reaparece na Holanda
Violência coordenada traz à tona temores de repetição de horrores passados na Europa
Na noite de 7 de novembro de 2024, após a partida entre Maccabi Tel Aviv e Ajax pela Liga Europa, o centro de Amsterdã foi palco de violentos confrontos envolvendo torcedores israelenses.
O incidente ocorreu dois dias antes do 86º aniversário da Noite dos Cristais (Kristallnacht), um dos maiores pogroms contra o povo judeu na história, o que adiciona uma camada sombria ao contexto dos ataques.
Grupos antissemitas, organizados em células, aguardavam estrategicamente nos arredores do estádio e em pontos-chave da cidade, munidos de armas brancas. Os torcedores israelenses foram emboscados em ruas estreitas, sem possibilidade de fuga, e submetidos a agressões físicas severas.
Relatos indicam que alguns agressores portavam facas e barras de metal, utilizando-as para intimidar e ferir as vítimas. Há registros de israelenses sendo perseguidos por várias quadras, enquanto os agressores gritavam insultos antissemitas.
Em um caso particularmente chocante, um torcedor foi encurralado em uma ponte e, ao tentar escapar, foi empurrado canal abaixo, sofrendo hipotermia devido às baixas temperaturas da água.
A resposta das autoridades locais foi considerada insuficiente por muitos. Embora a polícia tenha detido mais de 60 indivíduos, vídeos nas redes sociais mostram que, em diversos momentos, as forças de segurança estavam ausentes ou demoraram a intervir, permitindo que as agressões se prolongassem. Além disso, alguns hospitais relataram dificuldades em atender o número de feridos, com vítimas apresentando desde contusões até fraturas ósseas e lacerações profundas.
Este incidente ocorre em um contexto de crescente tensão na Europa, onde episódios de antissemitismo têm aumentado significativamente. Organizações de direitos humanos alertam que a falta de uma resposta contundente por parte das autoridades pode encorajar novos ataques, colocando em risco a segurança de comunidades judaicas em todo o continente.
Em resposta aos ataques, a prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, decretou medidas de emergência na cidade, incluindo a proibição de manifestações e do uso de máscaras, além do estabelecimento de uma “área de risco” que autoriza a polícia a realizar buscas e proibir concentrações. Essas ações visam conter a escalada de violência e prevenir novos incidentes.
Detalhes adicionais sobre as agressões revelam a gravidade dos ataques: alguns torcedores relataram ter sido atacados por pessoas armadas com paus e facas; um torcedor israelense de 24 anos, Adi Reuben, teve o nariz quebrado após ser atacado por 10 pessoas na saída de uma estação de metrô; houve relatos de agressores em motocicletas procurando ativamente por israelenses nas ruas.
Apesar da violência, a resposta da comunidade local trouxe esperança. Cidadãos holandeses abrigaram torcedores israelenses durante os ataques, oferecendo proteção e apoio em meio ao caos.
Em termos de relações diplomáticas, o novo ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, anunciou uma “visita diplomática urgente” a Amsterdã em resposta ao incidente, sinalizando a gravidade com que o governo israelense encara os acontecimentos.
As autoridades holandesas expressaram preocupação com possíveis novos incidentes e reforçaram as medidas de segurança na cidade, buscando garantir a segurança de todos os cidadãos e visitantes.
A Noite dos Cristais
A Noite dos Cristais, ou Kristallnacht, foi um evento trágico que ocorreu na Alemanha nazista entre os dias 9 e 10 de novembro de 1938.
Essa escalada de violência antissemita foi desencadeada pelo assassinato de Ernst vom Rath, um funcionário da embaixada alemã em Paris, por Herschel Grynszpan em 7 de novembro de 1938. Grynszpan, um jovem judeu polonês, estava indignado com a situação de sua família, que fora expulsa da Alemanha para a Polônia. A propaganda nazista retratou o assassinato como parte de uma conspiração judaica global, exacerbando o ódio antissemita.
A resposta do regime nazista ao assassinato foi devastadora. Liderados por Joseph Goebbels, os nazistas organizaram uma série de ataques coordenados contra a população judaica, suas casas, negócios e sinagogas.
Cerca de 1.400 sinagogas foram incendiadas ou destruídas, e inúmeras lojas judaicas foram saqueadas. Ruas ficaram cobertas de vidro quebrado, daí o nome “Kristallnacht” ou “Noite dos Cristais”.
Além dos danos materiais, a Kristallnacht resultou na morte de muitos judeus. Milhares foram presos e enviados para campos de concentração. Esse evento marcou uma virada significativa no tratamento dos judeus na Alemanha, indicando uma mudança de discriminação para perseguição violenta.
A Noite dos Cristais é considerada um prelúdio para o Holocausto, pois sinalizou o início de uma política oficial de perseguição aos judeus que eventualmente culminou em genocídio durante a Segunda Guerra Mundial. Este episódio sombrio da história é um lembrete doloroso dos perigos do ódio e da intolerância.
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