Na Bolívia, Evo Morales acusa ex-aliado de “traição”
Presidente Luis Arce propôs referendo para definir limites à reeleição para o cargo; ex-presidente diz que objetivo é prejudicá-lo
Em mais um capítulo da briga entre criador e criatura na Bolívia, o ex-presidente Evo Morales (foto) acusou o atual presidente, seu ex-ministro da Economia e ex-pupilo Luis Arce, de “traição”.
Em discurso na última terça-feira, 6 de agosto, Arce propôs um referendo para definir os limites constitucionais da reeleição presidencial no país.
“Proponho a convocação de um referendo na data das eleições judiciais [sobre] a reeleição contínua ou descontínua do presidente e vice-presidente do Estado Plurinacional da Bolívia”, declarou o presidente, acrescentando que seu objetivo é que “os atores políticos não voltem a afetar a estabilidade e a economia das famílias bolivianas”. A data da votação não está definida, mas a expectativa é que seja em dezembro ou janeiro.
Qual é o problema com a reeleição?
Atualmente, o texto constitucional da Bolívia prevê que o mandato presidencial no país é de cinco anos, com apenas uma reeleição subsequente.
Evo, que ficou no poder por mais de dois mandatos consecutivos, de 2006 a 2019, foi derrubado por uma revolta popular depois de passar por cima da Constituição para se eleger novamente.
O populista de esquerda ainda ignorou o resultado de uma consulta proposta por seu próprio governo, em que os eleitores bolivianos vetaram mudar a Carta do país para que ele concorresse outra vez.
Agora, o ex-presidente quer concorrer de novo em 2025 alegando que a Constituição não proíbe a reeleição “de forma descontínua”.
Comparação com o Equador
“Utilizando os mesmos métodos que o traidor Lenín Moreno, Luis Arce pretende convocar um referendo com o único propósito de me desqualificar como candidato para as eleições. A traição é uma das condutas humanas mais desprezíveis”, escreveu Evo na rede social X, ex-Twitter.
Lenín Moreno, que governou o Equador de 2017 a 2021, rompeu com seu mentor, o também esquerdista Rafael Correa, e reverteu um referendo que permitia a reeleição sem limites no país.
“Quem não quer ouvir o povo boliviano, quem está disposto a pensar somente em si mesmo, é uma só pessoa: chama-se Evo Morales. Ele apenas mente para o país”, rebateu o ministro da Justiça, Iván Lima, aliado próximo de Luis Arce.
Eleito em 2020 pelo MAS (Movimento ao Socialismo), o mesmo partido de Evo, Arce brigou com o ex-mentor ao ponto de hoje a sigla ter uma ala “evista” e outra “arcista”, com líderes diferentes. Recentemente, o ex-presidente acusou o atual de encenar uma tentativa de golpe de Estado.
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