Merkel critica aliança da centro-direita com a AfD sobre imigração
Ex-chanceler, peça-chave na crise migratória, tenta defender seu legado em meio a críticas ao endurecimento das políticas migratórias
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Angela Merkel, ex-chanceler da Alemanha, criticou publicamente, nesta semana, seu antigo partido, a União Democrata Cristã (CDU), por contar com o apoio do partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) na aprovação de um projeto que endurece as políticas migratórias.
A votação ocorreu nesta quarta, 29, e marca a primeira vez que uma proposta é aprovada no parlamento alemão com votos da AfD, partido que cresceu justamente sob o impacto das políticas de imigração adotadas por Merkel.
Merkel, que se manteve discreta desde que deixou o poder em 2021, manifestou sua revolta após a aprovação da moção — uma decisão tomada pelo atual líder da CDU, Friedrich Merz. Ele havia prometido, em novembro, que o partido não colaboraria com a AfD no Bundestag. “Foi um erro abandonar esse compromisso”, declarou Merkel em comunicado.
A ex-chanceler enfrenta um dilema político: suas críticas a Merz não apenas refletem divergências dentro da CDU, mas também uma tentativa de proteger seu legado. Merkel foi a principal figura por trás da decisão de 2015, quando a Alemanha abriu as fronteiras para cerca de um milhão de refugiados, muitos fugindo da guerra civil na Síria. Na época, Merkel argumentou que era uma questão humanitária e que a Alemanha tinha o dever moral de agir.
O impacto dessa política de imigração desenfreada foi profundo e gerou uma onda de consequências sociais e políticas. O aumento exponencial de imigrantes, associado a casos de violência envolvendo pessoas com ligações com o extremismo islâmico, elevou as tensões em várias cidades alemãs.
Em 2022, a AfD, que já vinha crescendo como força política, conseguiu expandir sua base eleitoral, especialmente em regiões onde o ressentimento com as políticas radicais migratórias de Merkel se consolidou.
O líder da CDU, Friedrich Merz, tem tentado se distanciar da era Merkel, adotando uma abordagem mais rígida sobre imigração. Ele recentemente classificou os últimos dez anos como um período de “política migratória equivocada”.
A aprovação do projeto, com o apoio da AfD, é um reflexo dessa nova postura. A moção foi aprovada por uma margem apertada — 348 votos a favor contra 345 — e prevê maior controle de fronteiras e restrições aos pedidos de asilo.
Para analistas, a intervenção de Merkel é uma tentativa clara de evitar que sua imagem histórica seja associada ao fracasso de suas políticas de acolhimento. A aprovação da moção gerou forte reação dentro e fora do país.
Olaf Scholz, o atual chanceler, criticou a decisão de Merz e acusou a CDU de “legitimar forças políticas que põem em risco a estabilidade democrática”. Por outro lado, a AfD comemorou a votação, destacando que sua influência no parlamento é crescente.
Merkel, no entanto, insiste que a solução para a crise migratória não está no que ela classifica como radicalismo, mas na cooperação entre partidos moderados. “É preciso trabalhar juntos, de forma honesta e moderada, respeitando as normas europeias, para evitar tragédias futuras”, afirmou.
O impacto dessa crise poderá ser medido nas urnas nas eleições de 23 de fevereiro. Se o apoio da CDU à AfD se traduzir em votos, o país poderá ver uma guinada à direita, consolidando uma nova fase na política alemã e desafiando o legado de Merkel.
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