Maduro aparece 13 vezes no cartão das “eleições” presidenciais
Nenhuma mulher aparece entre as opções, uma vez que todo o processo foi bloqueado para a líder política María Corina Machado registrar a sua candidatura às "eleições", bem como a sua aliada Corina Yoris.
Maduro aparece treze vezes no cartão eleitoral e ocupa toda a primeira linha do cartão que aparecerá na tela da urna eletrônica nas “eleições presidenciais” de 28 de julho na Venezuela.
Nenhuma mulher aparece entre as opções, uma vez que todo o processo foi bloqueado para a líder política María Corina Machado registrar a sua candidatura às “eleições”, bem como a sua aliada Corina Yoris.
No meio da segunda linha aparece o nome de Edmundo González, que registrou sua candidatura para sustentar algum nome do cartão da Unidade antes que expirasse o prazo para substituição.
O cartão destas eleições de 2024 reflete anos de aniquilação e expropriação de partidos políticos, entregues após processos eleitorais falhos a falsos opositores que negociam com o regime e que são conhecidos como políticos “escorpião”. No cartão, Nicolás Maduro aparece 13 vezes.
Venezuelanos no exterior denunciaram graves problemas no cadastro eleitoral. A ONG Grande Acordo Venezuela assegura que, dos 600 mil venezuelanos em Bogotá, só permitiram o registro de 53.
A manobra farsesca de Nicolás Maduro
Para Oliver Stuenkel, analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP, “eleições é termo inadequado para descrever manobra farsesca de Nicolás Maduro”
Em artigo publicado no Estadão, Stuenkel faz analogia entre o teatro eleitoral de Maduro e de Putin explicando que “Não por acaso, vários jornais alemães usaram a palavra Scheinwahl (eleição simulada) para descrever o recente pleito na Rússia. A revista alemã Der Spiegel, por exemplo, optou pelo termo Pseudobestätitung (pseudo-confirmação), e diversas outras publicações colocaram aspas tanto em vocábulos como ´eleições´ quanto ´resultado´ quando o assunto era a recondução de Vladimir Putin ao poder. O político grego Theodoros Rousopoulos optou, em recente comunicado, pela expressão so-called elections (as chamadas eleições) para descrever a votação russa”.
Para o cientista político, portanto, “da mesma forma, por falta de termos mais adequados, o uso de aspas na hora de se referir às ´eleições´ venezuelanas pode ser uma forma de lembrar os leitores de que o pleito no país vizinho não tem significado literal”.
Por que um líder autoritário se dá o trabalho de forjar “eleições”?
Além de conferir algum verniz de legitimidade ao mandatário autoritário, explica ainda Stuenkel, o falso pleito facilita o monitoramento da oposição que, mesmo sabendo que tem ínfimas chances de vencer se organiza para disputar. Outro ponto é a divisão da oposição ao longo do processo:
“Eleições não livres geralmente ajudam a dividir a oposição, como Maduro demonstrou magistralmente nas últimas semanas: ao longo do processo eleitoral, barrou um número crescente de candidatos (geralmente os mais populares) enquanto permitiu a participação de opositores menos conhecidos, corroendo assim a união entre seus adversários políticos. Embora o governo tenha impedido a participação de Maria Corina Machado – que venceria Maduro com facilidade se as eleições fossem inteiramente livres –, deu luz verde à participação de Manuel Rosales visto com desconfiança por vários rivais do mandatário venezuelano por ser uma espécie de ´opositor Potemkin´, que não tem intenções reais de confrontar o chavismo. O resultado é uma oposição fragmentada, cujas chances de vencer Maduro caem de forma dramática”.
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