A aplicação da inteligência artificial (IA) está se tornando essencial para acelerar processos no setor de saúde, especialmente na análise de exames de imagem. Na oftalmologia, a IA pode agilizar triagens vitais para detectar doenças como a retinopatia diabética, que compromete a visão e pode levar à cegueira.

Esse tema foi destaque no congresso Euretina, realizado pela Sociedade Europeia de Especialistas em Retina em Barcelona, Espanha. Adnan Tufail, professor de oftalmologia na University College London (UCL), expôs os impactos positivos da IA em triagens para avaliar a gravidade da doença por meio de exames de fundo de olho.

Como a IA Pode Transformar a Triagem de Retinopatia Diabética?

A equipe de Tufail analisou 1,2 milhão de imagens de triagem entre 1º de janeiro de 2021 e 31 de dezembro de 2022, destacando a eficácia da tecnologia. O diferencial do estudo foi a aplicação do método em sistemas públicos de saúde, como o NHS do Reino Unido.

Em entrevista à VEJA, Tufail destacou que essas tecnologias geralmente são implementadas em pequena escala, para pacientes que, de qualquer forma, veriam um médico. Ele ressaltou a necessidade de aplicar essa tecnologia em larga escala em sistemas de saúde pública: “O Brasil, como o Reino Unido, tem uma alta prevalência de diabetes, e muitos pacientes não comparecem às consultas ou não podem pagar pelo atendimento”.

Triagem com IA em Situações Adversas

Pacientes diabéticos requerem controle constante, pois o excesso de açúcar no sangue pode danificar os vasos da retina, causando retinopatia diabética. Tufail enfatizou que oferecer tratamento após a triagem é crucial: “Realizar triagens sem oferecer tratamento é um desperdício de tempo”.

Interessantemente, a IA também pode ser utilizada em situações adversas. Um estudo na guerra da Ucrânia avaliou 1.612 pacientes diabéticos de agosto de 2023 a fevereiro de 2024, mostrando 93% de sensibilidade e 88% de especificidade na detecção da retinopatia diabética.

IA como Ferramenta Eficaz na Atenção Primária

Estudos apresentados no Euretina indicaram que a IA mantém a precisão dos oftalmologistas e atua como uma ferramenta imediata para detectar a doença na atenção primária. Dessa forma, pode ser integrada aos atendimentos de rotina para diabéticos de maneira mais ágil e eficiente.

Philipp Schapotschnikow, CEO da Retina.help, apresentou resultados de um software desenvolvido em 2021, aplicado em 15 países. No Brasil, dados de 2.378 imagens de 1.294 pacientes mostraram uma sensibilidade de 95,3% e especificidade de 84,9% na triagem com IA.

Vantagens da Integração da IA nos Programas de Saúde

A principal vantagem da IA é a rapidez no diagnóstico. Schapotschnikow observou que a IA pode substituir o trabalho repetitivo de análise de imagens pelos médicos, liberando-os para atividades mais complexas: “A IA pode realizar essa tarefa com grande precisão”.

Ele defende que, para prevenir a cegueira causada pela retinopatia diabética, a tecnologia deve ser integrada nos programas de triagem no futuro. Detectar a doença precocemente permite tratamentos mais eficazes, prevenindo a perda permanente da visão.