Ideólogo de Putin questiona a existência da Ucrânia: “A guerra vai decidir”
No Λrktos Journal, uma publicação ligada a movimentos neofascistas, Alexander Dugin defende que a guerra define quem tem direito de existir, ecoando ideias de supremacia e dominação
Alexander Dugin, ideólogo de Vladimir Putin e das elites políticas e militares russas, publicou recentemente um artigo no Λrktos Journal em que afirma que apenas os vencedores têm o direito de existir.
No texto, sustenta que a guerra é o fator decisivo que determina o que é real e o que não é, e argumenta que a Rússia precisa vencer seus conflitos para assegurar sua própria existência. Ele chega a questionar se a Ucrânia alguma vez existiu de fato.
Dugin afirma que “a guerra decide o que existe e o que não existe”, e compara a situação da Rússia após a Guerra Fria a um estado de escravidão imposto pelo Ocidente. Ele sugere que a vitória em conflitos é o único caminho para que a Rússia “exista verdadeiramente” no cenário global, refletindo uma visão que justifica a agressão militar como um meio legítimo para alcançar e manter o poder.
O obscuro Λrktos Journal, que veiculou o artigo, é conhecido em alguns circuitos extremistas por promover ideias neofascistas, teorias da conspiração e temas tradicionalistas radicais. Sediado no Reino Unido, o jornal diz defender uma perspectiva “anti-globalista”.
Sob a liderança de Constantin von Hoffmeister, editor-chefe da publicação, o Λrktos Journal tem explorado temas como supremacia branca, globalização e a defesa da sobrevivência cultural de grupos originários europeus. Hoffmeister critica o liberalismo ocidental e defende um nacionalismo que valoriza a diversidade cultural e a autonomia dos povos contra as pressões globalizantes.
As ideias centrais do artigo de Dugin encontram paralelo nas filosofias de Carl Schmitt e Friedrich Nietzsche, dois pensadores que influenciaram profundamente o pensamento político do século XX. Carl Schmitt, defensor de uma política baseada na distinção entre amigos e inimigos, via a guerra como a expressão máxima da soberania. Já Nietzsche, com sua crítica à “moralidade de escravo” e a exaltação da “vontade de potência”, sustentava que apenas os fortes têm o direito de criar valores e moldar a realidade.
As ideias de Alexander Dugin continuam a moldar a retórica belicosa da Rússia. Em um artigo publicado na agência estatal russa RIA Novosti, Dugin declarou que a Terceira Guerra Mundial “já está em andamento” e que os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia são parte de uma batalha maior entre o Ocidente “ateísta e materialista” e as religiões tradicionais. Ele vê esses conflitos como um confronto entre a “multipolaridade”, defendida por ele, e a “unipolaridade” americana, sugerindo que apenas um novo mundo multipolar ou o completo aniquilamento são os desfechos possíveis.
Dugin, que exerce grande influência sobre as Forças Armadas e a classe política russa, argumenta que cada polo global deve “provar seu direito de existência” através desse conflito, até mesmo insinuando a possibilidade de uma guerra nuclear. Benjamin Teitelbaum, autor de “Guerra pela Eternidade”, descreve Dugin como um “profeta reacionário do ultranacionalismo russo”. Para Teitelbaum, ele é um “tradicionalista”, assim como Steve Bannon e Olavo de Carvalho.
No Brasil, sua influência se manifesta principalmente através do movimento Nova Resistência (NR), que tem ganhado notoriedade ao ser acusado de disseminar desinformação pró-Rússia e ideais neofascistas. Este grupo, que segue a Quarta Teoria Política de Dugin, atraiu tanto militantes nacionalistas quanto comunistas, todos unidos contra o que veem como globalismo. A NR foi acusada de infiltrar-se no Partido Democrático Trabalhista (PDT) e de participar ativamente da campanha presidencial de Ciro Gomes em 2022.
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