Harvard admite discriminação contra judeus em relatório
Quase 60% dos estudantes judeus disseram ter sofrido discriminação ou hostilidade por suas opiniões políticas ou por expressarem apoio a Israel
A Universidade Harvard divulgou no último dia 30 um extenso relatório de 311 páginas confirmando episódios recorrentes de antissemitismo em seu campus, especialmente após os ataques de 7 de outubro de 2023 contra Israel.
O documento, que estava prometido para o início do segundo semestre de 2024, foi publicado dias após autoridades do governo Trump exigirem o envio de versões do relatório e os nomes dos envolvidos em sua redação.
Segundo o levantamento, quase 60% dos estudantes judeus disseram ter sofrido discriminação ou hostilidade por suas opiniões políticas ou por expressarem apoio a Israel. Três em cada quatro declararam sentir que poderiam sofrer sanções acadêmicas ou profissionais por se manifestarem sobre o tema.
O estudo se baseou em 50 sessões com cerca de 500 membros da comunidade universitária e 2.295 respostas de uma pesquisa digital.
Casos citados incluem exclusão social, abandono de cursos e orientações acadêmicas, além de episódios explícitos de hostilidade.
Um estudante foi informado que “sionistas não são bem-vindos” na faculdade de medicina. Em outra ocasião, um professor do Divinity School retirou fontes israelenses da bibliografia do curso afirmando que o debate já estava saturado pela narrativa de Israel.
O relatório denuncia ainda que estudantes judeus foram classificados como “privilegiados” por sua origem durante treinamentos institucionais.
Há relatos de professores com receio de contratar acadêmicos israelenses por possíveis represálias. Estudantes relataram perder amizades e sofrer ataques por aparecer em fotos com colegas israelenses ou manifestar simpatia ao país.
No mesmo dia, Harvard também publicou um segundo relatório, de 222 páginas, sobre islamofobia e preconceito contra árabes e palestinos.
Nesse documento, é criticada a definição de antissemitismo da Aliança Internacional para Memória do Holocausto (IHRA), adotada por Harvard no outro relatório. Para os autores, essa definição restringiria o direito de criticar políticas de Israel, confundindo críticas legítimas com ódio religioso.
A publicação simultânea das duas investigações foi interpretada como uma tentativa de equiparação dos dois tipos de discriminação.
A ex-professora Ruth Wisse, que lecionou literatura iídiche na universidade, criticou a abordagem: “É absurdo tratar os dois relatórios como equivalentes. Se a universidade não vê o contraste, é porque não leva o antissemitismo a sério.”
O presidente de Harvard, Alan Garber, afirmou em carta pública que a universidade “não tolerará o preconceito” e anunciou novas iniciativas, como um projeto de pesquisa sobre antissemitismo, apoio à análise histórica de muçulmanos e palestinos na universidade e ações para promover diversidade de opinião.
Desde a intensificação dos conflitos no Oriente Médio em 2023, universidades norte-americanas vêm sendo pressionadas por parlamentares republicanos e grupos da sociedade civil por omissão frente a manifestações radicais em seus campi.
No caso de Harvard, o embate com o governo Trump inclui uma disputa judicial para tentar impedir o congelamento de US$ 2,2 bilhões em financiamento federal.
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