Fim de subsídios a combustíveis gera confrontos na Bolívia
Sindicatos ocupam o centro de La Paz e exigem a anulação do decreto que elevou o preço do diesel em 162%
Membros de sindicatos mineiros e forças de segurança protagonizaram embates em La Paz, sede administrativa da Bolívia.O confronto aconteceu nesta terça-feira, 30. Os manifestantes utilizaram dinamite e fogos de artifício para tentar acessar o prédio do governo na Praça Murillo. A polícia reagiu com o uso de gases lacrimogêneos e spray de pimenta para conter os avanços.
A mobilização, encabeçada pela Central Operária Boliviana (COB) e pela federação de mineradores, contesta o Decreto 5503. A medida extinguiu o subsídio estatal que mantinha os preços da gasolina e do diesel congelados por duas décadas. Grupos de professores e operários fabris também aderiram aos protestos no casco histórico da capital.
Ajuste financeiro e elevação de custos
O governo do presidente Rodrigo Paz estabeleceu um novo esquema de preços que resultou em alta de 86% na gasolina. O óleo diesel registrou uma elevação de 162% após a retirada do auxílio governamental. A gestão sustenta que a decisão é necessária para assegurar o fornecimento e equilibrar as contas públicas.
O ministro da Economia, José Gabriel Espinoza, descreveu o subsídio como uma “sangria financeira” que alimentava o déficit fiscal. A projeção para o índice de déficit este ano é de 13% do Produto Interno Bruto. A Bolívia depende da importação de grande parte do combustível consumido internamente.
De acordo com o Executivo, a interrupção do subsídio gera uma economia aproximada de 10 milhões de dólares por dia. Como contrapartida, o governo reajustou o salário mínimo de 2.750 para 3.300 bolivianos. Também houve aumento em bônus para estudantes e idosos sem previdência social.
Resistência sindical e continuidade dos protestos
As lideranças dos trabalhadores rejeitam as justificativas econômicas e exigem a manutenção do apoio estatal. Andrés Paye, principal dirigente dos mineradores, afirmou que “qualquer medida governamental deve beneficiar o povo”. O sindicalista garantiu que a categoria permanecerá mobilizada durante as festividades de ano novo.
Além dos preços, os sindicatos questionam normas que autorizam o Banco Central a gerir empréstimos externos sem consulta ao Legislativo. Mario Argollo, representante da COB, declarou que a contestação ocorre “contra este decreto maldito que busca hipotecar o país e as futuras gerações”.
A adesão aos protestos varia entre os setores produtivos bolivianos. Transportadores e comerciantes suspenderam paralisações após negociações pontuais com as autoridades. Contudo, os mineradores estatais seguem como o grupo mais ativo, incluindo greves de fome iniciadas por mulheres do setor.
O governo reiterou que não pretende revogar o decreto, embora mantenha canais de diálogo sem exigências prévias. Até o momento, as autoridades policiais não confirmaram a existência de feridos ou detidos durante as operações de dispersão no centro de La Paz.
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