Exploradores encontram um dos animais mais raros do planeta
A ideia não é apenas registrar belas imagens, mas chegar bem perto da rotina desses gigantes tímidos e entender como vivem
Em plena temporada de chuva, uma equipe de exploradores entra nas florestas de Virunga em busca de um dos animais mais raros do planeta: o gorila-das-montanhas.
A ideia não é apenas registrar belas imagens, mas chegar bem perto da rotina desses gigantes tímidos, entender como vivem, quais riscos enfrentam e por que sua sobrevivência depende tanto da proteção das últimas áreas de floresta intacta na fronteira entre Ruanda e República Democrática do Congo.
Como é começar uma expedição atrás dos gorilas-das-montanhas?
A jornada tem início em abril, justamente na época de chuvas nas Montanhas Virunga. Esse período costuma complicar qualquer sessão de fotos, com neblina, lama e equipamentos constantemente molhados.
Ainda assim, é exatamente nesse momento que muitos gorilas-das-montanhas descem em direção às florestas de bambu, atrás de alimento mais abundante, o que aumenta as chances de um encontro próximo.

Esse cenário úmido e fechado deixa o ambiente ainda mais dramático: trilhas escorregadias, vegetação densa e sons abafados pelo barulho da chuva.
É nesse clima que guias, guarda-parques e equipe de filmagem avançam lentamente, sempre atentos a rastros discretos, fezes frescas, galhos quebrados e marcas no solo, sinais clássicos de que uma família de gorilas pode estar por perto.
Onde vivem hoje os raros gorilas-das-montanhas?
Os gorilas-das-montanhas que aparecem nessa expedição vivem no Parque Nacional dos Vulcões, uma porção protegida de floresta que se estende por cerca de 125 km².
Esse fragmento é descrito por pesquisadores como uma verdadeira “ilha de floresta intacta” em meio a áreas alteradas por agricultura, vilas e estradas. Ao longo das décadas, o território disponível para esses primatas foi encolhendo de forma significativa.
A região de Virunga, na fronteira entre Ruanda e Congo, é uma das poucas no mundo onde a espécie ainda resiste em estado selvagem. Em um espaço relativamente pequeno, concentram-se famílias inteiras, cada uma com seu domínio conhecido pelos guardas.
Por isso, qualquer deslocamento humano precisa ser rigorosamente planejado, tanto para evitar conflitos quanto para reduzir o impacto sobre esses animais já pressionados pela perda de habitat.
O canal “Meu Planeta” registrou sua expedição e encontro com os gorilas-das-montanhas em um vídeo com mais de 600 mil visualizações no YouTube:
Como funcionam as famílias de gorilas-das-montanhas em virunga?
Um dos pontos mais curiosos da expedição é a forma como os guardas e guias conhecem as famílias de gorilas quase como se fossem vizinhos antigos. Cada grupo tem um nome e uma área bem delimitada. Entre eles, estão famílias como “Agacha”, “Sabinho” e “Ra”, todas com rotas e padrões de deslocamento mapeados há anos pelas equipes de conservação.
No caso da família Agacha, alvo principal dessa jornada, a estrutura social chama a atenção: 12 fêmeas adultas, 2 adolescentes, 3 machos adolescentes e 7 filhotes.
Esse quadro indica um grupo numeroso, com forte laço social e grande interação entre gerações. Para visualizar melhor essa organização, vale destacar alguns traços típicos:
- Macho dominante: geralmente conhecido como “prata nas costas”, é ele quem lidera deslocamentos e decisões do grupo.
- Fêmeas adultas: sustentam a dinâmica social, cuidam dos filhotes e mantêm a coesão da família.
- Jovens e adolescentes: passam boa parte do tempo brincando e aprendendo comportamentos observando os mais velhos.
- Filhotes: representam a esperança de continuidade da espécie, mas também o ponto mais sensível em termos de proteção.
Quais perigos os gorilas-das-montanhas ainda enfrentam nas trilhas?
Durante a caminhada até a área da família Agacha, a equipe se depara com uma ameaça silenciosa: armadilhas deixadas para capturar antílopes. Mesmo não sendo destinadas aos gorilas, essas estruturas de cordas, laços e estacas representam um risco grave para a espécie.
Já houve registros de gorilas mutilados após ficarem presos nessas armadilhas, o que pode comprometer a mobilidade e até levar à morte.

Além dessas ameaças, encontros com machos dominantes também exigem atenção. Em determinado momento, um macho bloqueia o caminho da equipe de filmagem, num ato claro de proteção de seu grupo. Essa situação é considerada delicada, porque um macho pode atacar se sentir que filhotes ou fêmeas estão em perigo.
Por isso, as visitas a gorilas-das-montanhas devem ser feitas com acompanhamento profissional, regras de distância e limites de tempo bem definidos, garantindo a segurança tanto dos animais quanto das pessoas.
Como é encarar um gorila-das-montanhas quase “olho no olho”?
Depois de horas de trilha, os primeiros indícios concretos de proximidade aparecem quando uma fêmea é avistada a cerca de 20 metros, escondida nos arbustos. A partir daí, a movimentação passa a ser ainda mais cuidadosa: nada de gestos bruscos, vozes altas ou correria.
Com calma, a fotógrafa consegue se aproximar a poucos metros, quase em um contato “face a face”, enquanto os gorilas seguem suas atividades diárias.
Muitos pesquisadores destacam que observar gorilas-das-montanhas de perto é como ter uma janela aberta para um passado distante da humanidade, um mundo selvagem e primitivo ainda preservado em alguns bolsões de floresta.
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